Ruivas, Louras & Morenas

quarta-feira, 22 de agosto de 2007
Por muito que se conheça de qualquer sujeito de interesse, a vida tem sempre surpresas. Este, afinal, é uma das coisas que a torna interessante. Um dia falei das virtudes dos produtos da Brasserie Unibroue, cervejeira da longínqua Quebec. E, justificadamente, de forma elogiosa.
Como é sabido, aquela província do gelado Canadá, é maioritariamente povoado por descendentes francófonos. Acredito que tenha sido essa ascendência que lhes forneceu a sabedoria na arte do “cervejar”. E esta “La Fin du Monde” é bem demonstrativa de como a experiência de séculos é uma mais valia superlativa.
Conhecia já a “Eau Benite”, a “Trois Pistoles” e a “Maudite”, qualquer delas de referência no “catálogo” de experiências de qualquer amador cervejeiro que se preze. Mas a “la Fin du Monde” excedeu as expectativas, o que não era fácil.
Começou logo por exibir um colarinho de espuma cremosa e duradoira, que é uma das características que, não sendo essencial, me agrada bastante. Depois, o líquido dourado e refulgente. Refere-se no rótulo - a propósito, tal como nos restantes produtos da Unibroue, o conjunto garrafa/rótulo é bem bonito - que se trata de uma Strong Ale de alta fermentação. À imagem das melhores belgas do género, diria eu, a ombrear com a Bush Ambrée ou a Duvel, sem receios.
A fermentação correcta, empresta-lhe um aroma adocicado a flores e frutos frescos bastante complexo. O sabor é impressivo. O travo a fruta e a especiarias é omnipresente e apesar da intensa carbonatação, é uma cerveja leve, à qual nem os robustos 9% de Abv, consegue sobrecarregar. Parece veludo a deslizar pela garganta, o que se pode tornar traiçoeiro para o incauto….
Esta, é sem dúvida, uma das grandes cervejas mundiais - e aqui faço mais uma vez a ressalva de que as opiniões aqui expressas espelham somente o meu gosto pessoal, e não uma cartilha onde se expõem verdades absolutas e definitivas - e uma das que pertencerá sempre ao meu “Quadro de Honra” pessoal.
Pode-se dizer que é das tais que vale a pena ir até ao Fim do Mundo para experimentar…

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posted by Vic at 8/22/2007 11:51:00 da manhã | 0 comments
quarta-feira, 15 de agosto de 2007
Há cervejas - como haverá vinhos - que, dada a sua exclusividade e excelência, se guardam para ocasiões especiais. No caso que abordo hoje, nada disso se passou, embora a expectativa fosse grande. Só que essa espera já se mantinha há muito, e não consegui resistir mais tempo ao apelo que a bela garrafa soltava.
Após a abertura desta Bush Prestige, inverteu-se a normalidade. Por outras palavras, foi a qualidade da cerveja que tornou a ocasião especial.
Bom ambiente, boa companhia e aquele líquido douradíssimo fez o resto. O que lhe competia e muito mais.
Na verdade, sabedor das virtudes da Cervejaria Dubuisson, nomeadamente as da sua extraordinária Bush Ambrée, as expectativas eram largas…mas todas foram excedidas. Poderia dizer que estive perante a melhor cerveja que até hoje bebi, mas aí estaria a ser injusto para com outras a quem estou grato pelos prazeres gozados durante a sua degustação. Quando se chega a determinados patamares, é difícil a opção de decidir qual a melhor, mais ainda quando as características de cada uma são distintas. No extremo, direi que tentar comparar uma Trapista com uma Belgian Strong Ale é quase tão difícil como escolher entre dois filhos igualmente queridos.
Por isso, não direi que esta Bush é superior à Rochefort Trappist 10, á Chimay Beu ou mesmo á Deus, Brut de Flandres, mas lá que tive uma vontade imensa de a eleger como a minha cerveja preferida, lá isso tive, tal a satisfação que me invadiu após a excelente sessão de prova do magnífico líquido. Pena que o acesso, não direi diário, mas assíduo, seja difícil, face, quanto mais não seja, ao preço e à dificuldade de aquisição.
Não me adiantarei muito na análise criteriosa das diversas vertentes que, normalmente, os “experts” cervejeiros fazem. Direi só que o agradabilíssimo tom alaranjado do vivíssimo líquido e encimado por uma camada de espuma tão branca como a neve e duradoura, tem correspondência e é até excedido, nos excelentes aroma e sabor a fruta fresca. Bebível com alguma facilidade, torna-se traiçoeira, visto que os seus 13% de ABV, não se notando quando escorrega pela garganta, sente-se intensamente minutos passados.
Acrescentaria que, brincando um pouco, quem, de entre os amantes cervejeiros, nunca provou a Bush Prestige o deverá fazer o mais rápido possível, sob pena de ficar com uma lacuna imperdoável no seu currículo.


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posted by Vic at 8/15/2007 01:25:00 da tarde | 4 comments
quarta-feira, 8 de agosto de 2007

O Edu Passarelli, um amigo da cerveja – e de outras especialidades – que mantém um blog sobre o assunto, merecidamente reputado no Brasil, esteve recentemente pela Europa – a que apelida de “paraíso da cerveja”, pelo que deduzo não tenha passado por Portugal – e particularmente porque é o que vem ao caso, em Espanha, e explicíta-o num dos seus últimos posts, no qual particulariza a sua experiência com a cerveja Te Deum.
Achei curioso, porque o que ele relata a determinada altura, coincide de certa forma com o que se passou comigo numa fugida a Madrid, há um par de meses atrás.
Diz ele que “…à mesa de um pub belga em Madrid, e após pedir a primeira cerveja, o garçom nos trouxe raspadinhas e um dos prêmios foi uma garrafa da desconhecida cerveja espanhola Te Deum. Digo um dos prêmios pois este foi o segundo …”. Ora, oferta semelhante me foi feita no Cafeeke (o tal barzinho belga simpatico, que aqui referi num post de Junho), o que me leva a crer que, por pouco não me cruzava com o Edu.
Mas a coincidencia fica por aí. Na verdade, fizeram-me a oferta da raspadinha se eu pedisse uma Te Deum, só que eu já conhecia a cerveja, e a carta deles tinha ofertas tão tentadoras, que, com pena pela perda da raspadinha, recusei a Te Deum e pedi uma Achel (Ah! claro que não perdi na troca!!!). Mas compensei, abastecendo-me de Te Deum’s numa grande superfície da capital espanhola, porque o Edu tem muita razão no que diz – ou não fosse um expert - , a Te Deum, em qualquer das três versões, exibe uma qualidade acima da média, embora a minha preferência recaia na Brune.
Refere ele depois que “…Decidimos trazer a garrafa para ser degustada no Brasil. O rótulo menciona ser uma cerveja de abadia espanhola, tripel, e fabricada em Madrid mesmo. Pesquisando um pouco depois li que ela têm a fabricação terceirizada na belga Brasserie Du Bocq. Fica aqui a dúvida, mas vou confiar no rótulo.…”.
Bom, aqui creio que posso dar mais uma achega. Esta cerveja é relativamente recente. Creio mesmo que a tal promoção de que o Edu fala, tem a ver com os 5 anos de existência da cerveja que se comemoravam na altura, ao que me foi dito.
Depois, vem o tal mistério da origem da cerveja. Belga? Espanhola? Segundo vi referido algures, um dos “pais” da Te Deum terá sido o dono da Oldenburg, também uma cervejaria madrilena (de que dei nota aqui, pela mesma altura), homem muito interessado e sabedor de tudo o que diz respeito a cerveja. Aliás, as paredes do seu exíguo mas abastecidíssimo estabelecimento, são poucas para a exposição da quantidade de diplomas de que é titular.
Não sei a história com rigor, mas não andará muito longe da verdade que a mesma tenha efectivamente origem em Espanha, e que a sua comercializaç\ao tenha sido entregue a uma Cervejeira internacionalmente reconhecida como a Du Bocq.
De qualquer forma, trata-se de um produto de grande divulgação em Espanha – e trata-se de mais um mistério para mim, como é que ainda não chegou cá, uma vez que é quase tão vulgar em Espanha como a Bock Damm ou outra qualquer outra cerveja espanhola – e merecedora de toda a atenção.
A apreciação feita pelo Edu, é semelhante à que eu faria, pelo que me vou escusar de repetir. Só lhe faltou referir a terceira variedade da grelha, a “blond”, que está ao nível das outras duas, embora mais leve e floral, e posuidora de uma mais forte gaseificação.


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posted by Vic at 8/08/2007 03:02:00 da tarde | 6 comments
domingo, 5 de agosto de 2007
Nos últimos tempos, talvez devido ao calor que se tem feito sentir e ao consequente incremento na indolência, tenho-me dedicado ao prazer de saborear cervejas mais leves, daquelas que, se o consumo for menos moderado, o corpo não sinta muito o efeito.
Bom, sejamos francos: não sou um bebedor de exageros. É raríssimo consumir mais que duas cervejas num dia, e, ainda mais raro, que elas sejam bebidas uma a seguir à outra. Aliás, tenho para mim, que a perca de moderação retira muito do prazer que a sagrada bebida nos pode dar.
Mas voltando ao assunto: apesar de, de quando em quando não resistir ao apelo das que me são mais caras, tenho dado preferência às dunkel. As dunkel são, como escreve Roger Protz no seu livro 300 Beers to try before you die: Dunkel - “escuro” em alemão, indicando uma lager cuja cor derivou graças à acção de maltes bem torrados”.
É verdade que não aprecio muito as lagers comuns. Mas estas, provavelmente devido ao sabor que lhes é conferido pelos tais maltes torrados, que se aproxima muito de um achocolatado suavemente amargo, é-me especialmente agradável.
A cor destas cervejas é variável, podendo ir do acobreado ao castanho muito escuro, quase negro, que por vezes à primeira vista, aos menos conhecedores, pode parecer estarem em presença de uma stout.
Como são das mais comuns por cá, tenho-me ficado pela Franziskaner Hefe Weisbier Dunkel e a Erdinger Weisbier Dunkel, que, aliás, são duas excelentes cervejas, ambas vendidas em garrafas de 0,5 l (nem de propósito, as fotos de ambos comprovam a tal variedade de tonalidades), e entre ambas, embora menos favorecida pela crítica em geral, a minha preferência vai para a Erdinger, uma cerveja que, além da qualidade da cerveja, se exibe numa garrafa negra, de rótulos de muito bom gosto, o que, parecendo que não, também tem a sua importância.
De teor alcoólico relativamente baixo, o que se convém a esta época do ano, são ambas um bom exemplo de como os grandes distribuidores podem manter uma qualidade elevada, mesmo em produtos de “linha”, e, portanto excelentes companhias para estes fim de tarde preguiçosos.
Ambas para se saborear lentamente, mas…sem nunca lhes deixar perder a frescura.


Erdinger Weisbier Dunkel:**********


Franziskaner Hefe Dunkel**********



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posted by Vic at 8/05/2007 02:15:00 da tarde | 5 comments