Ruivas, Louras & Morenas

domingo, 19 de outubro de 2008
Pois é, como diz o povo, "de boas intenções está o inferno cheio". A que propósito vem isto? Bom, é que eu tinha guardadas umas quantas cervejas "de Natal" com o propósito de me aquecerem os dias invernosos, mas um dia destes não resisti (ah! como a carne é fraca...)e fui-me a uma delas. Ou melhor, a duas, mas agora limito-me a falar da primeira a sucumbir, a Bush Noel.
Manifesto desde já uma declaração de interesses: sou um indefectível das cervejas da cervejeira Dubuisson, especialmente desse colosso de força que se chama Bush Ambré, uma das grandes referências cervejeiras da actualidade. Daí então, a minha predisposição para gostar desta Noel. Que não desiludiu.
O curioso é que esta é a 50ª apreciação que faço a cervejas belgas. E devo dizer que a Noel merece bem o marco.
É uma cerveja bem ao nível das outras “manas” Bush: encorpada, de forte personalidade e pouco confundível com outras do mesmo estilo.
Espuma cremosa que marca em anéis sucessivas as paredes do copo, um corpo bronzeado e levemente turvado de carbonatação apreciável, um aroma forte a passas e a vinho velho. Os sabores remetem-nos às vindimas, aos licores e mesmo à experiência marcante da 1ª alambicada. Uma mistura generosa de frutas maduras, maçãs, ameixas, o indispensável malte aliado a algumas especiarias.
O final de boca é marcante: o líquido deixa rasto por toda a boca e garganta, chegando ao estômago com vontade de marcar presença. O que quer dizer que a sua força etílica é evidente, embora muito equilibrada e agradável.
Pelo que acabei de dizer, só há uma conclusão: a Bush Noel agrada em todos os sentidos - embora continue a preferir a Ambré - e um Natal regado com um néctar assim, só pode ser um Natal abençoado.
Bush Noel - **********




Cervejeira: Brasserie Dubuisson Frères, sprl
Vol/Alc: 12% Abv
Ano: 2007
Tipo: Belgian Strong Dark Ale
Copo: Goblet


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posted by Vic at 10/19/2008 11:24:00 da manhã | 2 comments
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Desta feita, a Ronda #5 é paga pelo Carls, do Universo da Cerveja, e o tema é muito interessante: Que país faz a melhor cerveja? E, desse país, quais as três cervejas preferidas?
Bom, o tema é interessante, mas de fácil/difícil resposta: E porquê? É simples porque responderia de imediato: Bélgica. Mas difícil porque ficarei a lamentar deixar de fora as cervejas das excelentes micro-cervejeiras americanas, algumas extraordinárias old Ales inglesas, e mesmo aquelas que são uma das minhas fixações, as Rauchbier alemãs. Mas enfim, tem que se escolher, e a Bélgica tem muitos pontos a favor. Desde logo, o facto de ser o país de origem predominante do meu estilo de cerveja preferido, o trapense (ou trapista), apesar de, na realidade, a Bélgica ser muito mais que isso.
Na Bélgica, um qualquer lado a que se vá, encontramos uma cervejaria…com a sua própria cerveja, o que, só por si, já é extraordinário. Tenho a certeza que é o país em que há mais micro-cervejeiras independentes por metro quadrado. Não está em causa que algumas delas produzam cervejas de menor qualidade. Não, como em tudo na vida, há o bom e o mau. Mas duma coisa tenho a certeza: o cervejeiro da Bélgica tem aquele espírito amador e coração de amante, que tenta por no que faz o melhor que sabe. E pedir mais já seria exagero.
Depois, as cervejeiras trapistas dão-nos com as suas extraordinárias cervejas, o saber acumulado de séculos de esmero, os segredos de gerações acumulados nos escaninhos dos mosteiros, e que para nós, simples mortais, são quase mistérios tão agudos como o do sentido da vida, ou o da vida para além da morte.
Deverei deixar aqui uma menção - até porque a penso justa - á Holanda, cuja cultura - cervejeira e não só - está naturalmente ligada à da Bélgica. Também lá se faz excelente cerveja - quando estive em Amsterdam fiquei fã das cervejas da T’Ij e da De Molen - e habitualmente só se lhes conhece as excelentes La Trappe ou as, muitas vezes mal afamadas Heineken. O que é manifestamente pouco, para a tão diversificada oferta que tem para o amador cervejeiro.
Mas continuemos com a Bélgica. Para além das trapistas, sou um apaixonado pelas Belgian Strong Ale e pelas Dubbel. E naturalmente das recentes Brut Champegnoises. Aliás, as cervejas escuras há muito tempo que fazem parte da minha longa lista de eleitas, que ficou bem patente na lista que fiz há uns meses com as minhas 20 cervejas preferidas de entre as testadas durante o ano passado.
Mas a lista de preferências é extensas. Contudo, e como me são pedidas 3, decidi deixar de fora cervejas especiais como a Bush Prestige, a DeuS, Brut de Flandres e a Avec les Bons Voeux, e assim, eis as eleitas:
- Rochefort Trappiste 10
- Westvleteren 12
- Chimay Bleue
Posso afirmar que, qualquer delas torna o momento em que as tomo, num momento especial.
Nota - Como suuplentes, poderia propor as:
- Westmalle Dubbel
- De Struise Pannepot
- Orval Trappiste


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posted by Vic at 10/14/2008 01:10:00 da tarde | 6 comments
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Parece um desagravo mas não é. Há quem pense que nutro alguma má vontade quanto às cervejas portuguesas. Nada disso! O que lastimo é que não se faça melhor. E não se faz porque não se quer (ou não interessa?). E a prova que se pode, está aí estampada na fotografia.
O prato principal era o inevitável bife, desta vez com molho de ostras. O acompanhamento, as inevitáveis batatas fritas - nem boas, nem más, antes pelo contrário - e um esparregado (excelente). A cerveja, e como a sazonal ainda é a Spring que não é muito ao meu gosto, foi uma Puro Malte, que é uma cerveja bronzeada, muito aromática - cheiros a maltes, claro - e de espuma exuberante, que se vai deixando ficar pelas paredes no copo. Não muito gaseificada, e com um paladar em que o amargor está no "ponto", torna-se muito bebível e agradável. Nada de altamente entusiasmante, mas ainda assim de elogiar.
O que me leva a perguntar o porquê da sua não comercialização mais alargada.
Espero agora pela chegada à República da Cerveja da sazonal de Natal - que estará disponível durante Novembro e Dezembro, e depois, pela de Malte de Whisky, uma excelente cerveja que mete num chinela aquela mistela francesa a que chamaram de Adelsot (menciono-a porque também os seus fabricantes a apelidam de cerveja com malte de whisky, naturalmente), e quue estará disponível a partir de Janeiro.

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posted by Vic at 10/13/2008 02:16:00 da tarde | 0 comments
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Muito atrasado, mas mesmo assim não queria deixar de concorrer com a minha opinião para o tema lançado por Mario Manzano (Manzapivo), da Cerveceria de Neo Manza, blog escrito desde a Colômbia, e que põe a pertinente questão de: Cómo construir, consolidar e manter uma verdadeira cultura cervejeira?
A resposta, em princípio, é muito difícil. Há muitos pontos a ter em consideração, todos eles prioritários, mas parece-me que o principal será sempre levar a sério a cerveja. Ora isso, num país ancestralmente vinícola, é extremamente complicado. Em países como Portugal, que é o meu, e naturalmente o que conheço melhor, o lobby vinícola é poderoso, e a cerveja é vista como bebida de 2ª ou 3ª classe, ao nível dos sumos e das colas, e o seu fim será, quase sempre, o de matar a sede. Convidem uma dúzia de portugueses típicos para um almoço, e, provavelmente, só um deles optará por uma cerveja para acompanhar o repasto.
Em Portugal, a cerveja é bebida das seguintes maneiras: em festas de província, sob a forma de mini (20 cl) ou “imperial (a caña), em festivais rock por adolescentes, em ambos os casos com o único fim de beber o máximo possível, não importando a qualidade. Depois, há uma franja de população urbana que periodicamente se desloca a uma das grandes cervejarias - Portugália, Trindade, Lusitãnia ou República da Cerveja - para comer o tradicional “Bife à café” ou umas doses de bom marisco, acompanhados por uma - ou mais - das cervejas postas à disposição. Na maior parte dos casos, também aqui sem grande investimento na questão da qualidade. Ou é Super Bock ou é Sagres. Ou vice-versa.
Restam, os indefectíveis da cerveja, como eu, que procuram qualidade, mais que quantidade, e que procuram dar alguma visibilidade à magnífica bebida, nem que seja só entre o seu reduzido núcleo de amigos., além, claro, de meia dúzia de “carolas” que se vão “atrevendo” na arte da cerveja artesanal, para gáudio dos que lhes estão próximos e que são os privilegiados, uma vez que são eles os destinatários das maravilhas que saem das mãos desses entusiastas cervejeiros.
E aí estará, talvez, a melhor forma de ir construindo a cultura cervejeira, criando uma espécie de células, e fazendo com que elas se expandam e se multipliquem.
Porque das macro cervejeiras estamos falados: da parte deles não há motivo para educar o gosto do consumidor. Pelo contrário, a filosofia vigente é precisamente a contrária: “Se a Bud vende em todo o mundo, porque não investir em algo parecido?”. Ou: “Se o povo gosta de lager aguada, para quê perder tempo em invenções?”
Bom, o discurso pode parecer amargo, mas a realidade é esta: implantar uma cultura cervejeira séria é difícil. Repetem-se fórmulas, na maior parte dos casos, não as melhores, mas aquelas que oferecem mais garantias de rentabilidade.
De resto, parece-me boa a análise que o nosso amigo Chela faz do panorama cervejeiro português, embora me pareça, que dele transpira um optimismo mitigado, que de forma alguma partilho.

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posted by Vic at 10/07/2008 04:02:00 da tarde | 4 comments
Não me interpretem mal: a Aventinus aqui presente, não é difícil de “engolir”. Foi-me difícil a encontrar, isso sim. Dirão: “Como é isso possível?” os meus amigos de outras terras, visto a grande popularidade da cerveja escura da Schneider & Sohn e a sua relativa proliferação pelas terras de “nuestros hermanos”.
Pois mesmo em repetidas incursões a Espanha, só há pouco tempo consegui encontrá-la nos escaparates de um hipermercado da Alcampo. E mesmo nessa vez, a desgraçada estava só e abandonada num canto, pelo que só consegui um exemplar (posteriormente aconteceu-me a mesma coisa num outro hiper do mesmo grupo, pelo que parece que estou “condenado” a arranjar as Aventinus à unidade…). Depois, deixei-a amadurecer um pouco na prateleira. Como só tinha uma, estava renitente em me desfazer dela, pelo que fui protelando a degustação.
Até que chegou a altura em que se tornou impossível adiar o nosso “encontro”, e num domingo em que o almoço abundava de carnes frias e enchidos, lá a abri.
A tampa saltou com algum estrépito, apesar da carbonatação não ser excessiva. Deitada no copo, mostrou uma gola mediana mas persistente, acastanhada, a encimar um corpo muito escuro e turvo, que afinal trata-se de uma cerveja de trigo.
Os aromas vão do trigo às uvas frescas, passando naturalmente pelos maltes. De sabores é farta e forte: de frutas tropicais, com preponderância para a banana, e ás tais uvas de que já dava nota nos aromas.
A Aventinus, é, portanto, uma cerveja com uma presença impressiva, e a “obrigar” a uma convivência duradoura. É daquelas cuja publicidade não engana: a fama que a precede é totalmente merecida.
Aventinus - **********



Cervejeira: Private Weissbierbrauerei G. Schneider & Sohn GmbH, Alemanha
Vol/Alc: 8% Abv
Ano: 2006
Tipo: Weizenbock
Copo: Weiss Glass




P.S.- Logo voltarei para corresponder á La Ronda, para a qual já estou declaradamente atrasado..Até lá!

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posted by Vic at 10/07/2008 02:46:00 da tarde | 3 comments