Quando há uns anos visitei Cannes, ainda a questão cervejeira se não me punha com acuidade. Por miúdos, a cerveja era uma bebida semi-alcoólica a meio caminho entre o refrigerante e o vinho. Nunca me tinha merecido muita atenção, até porque as que tinha bebido até então, nacionais geralmente, nunca me tinham seduzido o suficiente para me fazer parar para pensar sobre as suas virtudes.
Naquela tarde, os meus olhos vinham cheios de azul mediterrânico e daquela bela marginal, de sonhos para tantas starlets, do Carlton…Cansado, sentei-me numa pequena esplanada numa ruazinha paralela à avenida do mar, dos iates, dos hotéis e das ourivesarias, e pedi uma cerveja. O empregado, simpático, debitou umas poucas de marcas, mas eu fiz-lhe saber que era indiferente.
Trouxe-me um copo redondo de pé alto, que me chamou a atenção, estando eu habituado desde sempre aos copos das “imperiais”. Tinha estampado o rótulo da Grimbergen, e nele borbulhava insistentemente uma “loura” que tinha muito de comum com o sol que inundava a cidade europeia do cinema. Provei-a e tive um pequeno sobressalto. O seu sabor pronunciado e o aroma frutado, identificavam-se perfeitamente com os canteiros floridos e bem tratados que eu deixara á beira-mar
Talvez tenha sido esse, o momento de viragem no meu interesse pela “bebida dos monges”, como lhe costumo chamar. E na verdade, a Grimbergen, nas suas 5 variantes - Blond, Dubbel, Tripel, Optimo Bruno e Cuvée de l'Ermitage - até é uma cerveja de abadia, embora os monges tenham entregue a exploração comercial à cervejeira belga Alken-Maes. E a comercialização em massa, reflecte-se naturalmente na qualidade do produto.
Desde então fui conhecendo muitas outras que a ultrapassaram largamente nas minhas preferências, mas a Grimbergen continua a ser uma memória, e de cada vez que vou a França, faço questão de beber ao menos uma.
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