Ruivas, Louras & Morenas

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
A época é pouco generosa em tempos livres, daí a minha ausência algo prolongada. Mas hoje, num bocadinho livre, e porque não? Para acabar o ano em beleza, eis-me para vos apresentar uma cerveja que aprecio muito.
Vamos lá então:
Por vezes, ao saborear um novo prato ou uma nova bebida, sentimos aquela vontade de exclamar: “Ah! Que beleza! Isto sim, é a perfeição!”.
Claro que o desabafo é por vezes fruto da ocasião, do facto de nos sentirmos á altura, num mood daqueles quase beatíficos, em que tudo parece perfeito. Depois, acontece que á 2ª as coisas não são tão positivas, e lá vem uma semi desilusão.
Bom, mas não é isso que se passa com esta cerveja da Shepherd Neame, reputada cervejeira inglesa do Kent. Elaborada em 1998 para celebrar os 300 anos (!!!) da cervejeira, a sobredita preenche todas as condições que devem ser características a uma excelente strong ale inglesa. Refiro este aspecto, porque me parece que o que se procura neste tipo de cervejas é distinto quando se trata de inglesas ou belgas. Pelo menos esta é a minha opinião.
Explicando: quando referimos a strong ale belga, geralmente estamos a falar de uma cerveja com bastante corpo, de grau alcoólico generoso e apropriada a escoltar uma boa refeição.
Nas inglesas, embora de corpo muito razoável, o grau alcoólico é mais moderado pelo que se adapta melhor às confraternizações amigáveis.
Esta 1698 tem tudo isso: apresenta-se bonita no copo - afinal os olhos também comem (ou bebem) - cor acobreada, gola mediana e de vida não muito extensa, mas que deixa marcas no copo. Aroma e sabor a jogarem perfeitamente, com os maltados e caramelo a marcarem uma presença vigorosa.
Uma Strong Ale que honra a tradição cervejeira britânica.


Shepherd Neame 1698 - **********



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posted by Vic at 12/31/2007 01:03:00 da tarde | 0 comments
terça-feira, 18 de dezembro de 2007
Por vezes, as mesas dos cafés ou restaurantes estão tão próximas, que acontece muitas vezes, mesmo sem querer, ouvir a conversa do lado. Na maior parte das ocasiões, o assunto passa-me ao lado por não me dizer respeito ou ser desinteressante, mas aqui há uns tempos chegou-me aos ouvidos uma observação curiosa, embora pouco original. Dizia um tipo dos seus quarentas para o seu parceiro de mesa, ao mesmo tempo que empunhava uma “imperial” á altura dos olhos e à contra luz, com ar de entendido: “Estes gajos cada vez estão cada vez pior a tirar imperial! ‘Tá completamente morta”, ao que o outro respondeu: “Pois é, devem pensar que somos alguns tansos, que não percebemos nada de cerveja. Uma cerveja sem gás é tão boa como uma bica descafeinada”.
Bom, eu até entendo que as “imperiais” devem ter alguma/bastante gaseificação, agora generalizar a todas as cervejas a questão é que já me parece uma valente asneira. Na verdade, não me imagino a beber uma Trappist cheio de gás. Mas admito que por cá ainda fazem cátedra uma série de preconceitos acerca da cerveja. Ele é o gás, que deve ser muito, ele é o servir quase gelado, ele é o sucesso que fazem algumas casas que servem a “imperial” em copos previamente gelados - suprema heresia - e decerto mais algumas normas que não tenho presente, entre as quais, honra nos seja feita, uma que vigora muito no Brasil, e que é a de chamar de “ladrão” ao dono do boteco que se atreve a servir um chope com “colarinho”.
Vem isto a propósito da cerveja aqui apresentada, a “Biére du Boucanier”. loura da Flandres de Este, e que faria decerto as delícias daquele meu ocasional vizinho de cervejaria. Ao contrário de algumas suas compatriotas, esta é exuberante em carbonatação, em espuma e…em teor alcoólico.
Trata-se de uma “belgian strong golden ale”, muito à imagem da Duvel, bela cor dourada, bastante encorpada e bem generosa de aromas e sabores. A tal graduação alcoólica é bem detectável, mas de forma suave, e por detrás de notas de citrinos o que lhe transmite uma aparência refrescante. Que não desmente no sabor. Neste, sobressaem novamente os frutados, e o lúpulo a impor presença, embora não seja, de todo, uma cerveja de final amargo.
Trata-se, enfim, de uma cerveja muito agradável, plena de notas refrescantes, embora não seja de desdenhar o seu consumo mesmo no Inverno. É daquelas que puxa outra logo a seguir, mas a precaução é aconselhada, porque a presença acentuada de álcool - 11º de Abv - não é uma mera indicação no rótulo.


Biére du Boucanier - **********



 
posted by Vic at 12/18/2007 03:33:00 da tarde | 0 comments
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
A Kasteel Bier da Brouwerij Van Honsebrouck N.V, tem tudo o que é necessário para agradar aos amantes destas “morenas” belgas, encorpadas e gulosas.
As vestes quase negras, escondem um corpo sensual e de grandes poderes de sedução. É uma cerveja de quádrupla fermentação e que atinge um grau alcoólico elevado - 11º Abv - o que deve ser tomado em conta.
Vertido no copo, apresenta-se encimada por uma gola moderada e que não perdura por aí além. Como é hábito neste tipo de cervejas, a gaseificação é quase despicienda. Os aromas que se soltam trazem-nos malte torrado e frutas silvestres.
A prova mostra uma cerveja adocicada e plena de notas frutadas que por vezes nos traz ao palato recordações de um bom “Porto”. O que não deixa de constituir um bom cartão de visita.
Confesso as minhas reticências em relação a cervejeiras que se desdobram em múltiplas qualidades de cerveja. Parece-me sempre que a dispersão raramente dá bons frutos. Ora a Brouwerij Van Honsebrouck é uma dessas cervejeiras que produz uma variedade considerável de cervejas. Só conheço esta (embora tenha conhecimento que, pelo menos a Brigand, seja igualmente recomendável). E esta demonstrou que as minhas reticências, pelo menos desta vez, não tinham razão de ser.


Kasteelbier Bruin - **********



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posted by Vic at 12/14/2007 11:28:00 da manhã | 1 comments
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
Não sou declaradamente fundamentalista em relação a nada, e no que diz respeito a cerveja, ainda menos. Por isso uma vez referi o meu pouco entusiasmo em relação á “lei da pureza”, que, é claro, nos tempos que correm não passa de uma mera declaração de (boas) intenções, se assim se pode dizer.
Por ser assim, e verdade, não hesitei este fim de semana ao passar por um belo supermercado perto de mim, e descobrir este conjunto de cervejas+copo da Timmermans, em comprá-lo.
A Timmermans é uma cervejeira tradicionalmente vocacionada para cervejas Lambic, e do conjunto faziam parte um exemplar das variedades Peche, Kriek, Framboise, Faro e Blanche. Embora não sejam daquelas cervejas pelas quais me perca, são bastante agradáveis, e dada a predominância dos tons adocicados e marcadamente frutados (o pêssego, a cereja e a framboesa), são aconselhadas a serem servidas bem frescas e a acompanhar sobremesas (ressalvo a Blanche, que será um pouco diferente das outras, dadas as suas características específicas, naturalmente).
Nota: Não deixo qualquer classificação uma vez que não degustei ainda, quer a Blanche, quer a Faro. Quando o fizer, deixarei então a minha opinião.


 
posted by Vic at 12/10/2007 02:51:00 da tarde | 0 comments
segunda-feira, 3 de dezembro de 2007
Que é como quem diz, depois de uma morena suave como o veludo, nada como uma loura explosiva. Como é o caso da Malheur 10º.
Claro que o 10º exibido no rótulo e na tampa tem a ver com o grau alcoólico. E podem crer, ele faz-se sentir e de que maneira. Em todos os aspectos, até na deguustação, o que poderia demonstrar desequilíbrio da cerveja. Mas não, os 10º estão lá, fazem-se notar, mas não têm propósitos nefastos.
Esta Malheur de um dourado bonito e espuma abundante, cremosa e "teimosa", exibe todos os predicados das "strong ales belgas": média gaseificação, aromas a especiarias e maltes, sabores complexos a citrinos e novamente as especiarias. Na boca, preenche todo o espaço que encontra, e mesmo depois de escorrer pela garganta, deixa um rasto iniludível e perdurável, o que demonstra a sua...potência.
É assim uma boa experiência - o nome não se deve ter em conta, portanto - embora a moderação (afinal, estado de alma sempre indicado quando se consome qualquer tipo de bebida alcoólica) seja muito aconselhável, tendo em conta o que referi em relação ao seu Abv.
Já agora, e para finalizar, referiria a apresentação, ou melhor, o seu rótulo que me fez esboçar uum sorriso - de cores alegres, mas aquele raio deve ser uma espécie de aviso: atenção, loura explosiva!


Malheur 10º - **********



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posted by Vic at 12/03/2007 09:17:00 da tarde | 0 comments
domingo, 2 de dezembro de 2007
Pois é. Face às minhas preferências já aqui denunciadas pode parecer surpreendente que eleja a Kostritzer Schwarzbier (em alternância à Sagres Bohemia) como a minha cerveja de todos os dias. Ao mesmo tempo, e uma vez que ela possui muitas das qualidades que prezo na cerveja, a surpresa não pode ser total.
Em primeiro lugar há que ter em consideração a relação qualidade/preço.
Claro que num mundo ideal em que os nossos bolsos se pudessem abrir todos os dias a cervejas altamente cotadas, a minha escolha iria provavelmente para uma Rochefort 10, entremeada com outras mais ligeiras, como a Duvel ou alguma Ale inglesa, que Rochefort todos os dias é dose, e pesada. Mas não estamos, e as diferenças de preço é pormenor(ou pormaior) a ter em conta necessariamente. Ora a Kostritzer, de entre as boas cervejas estrangeiras (pois é, já devem ter notado que a minha simpatia pelas nacionais não é por aí além) é uma das que tem um preço mais acessível, ao que alia, é claro, outras virtudes.
Além daquela cor quase negra, com reflexos acobreados, mostra, depois de vertida no copo, uma espuma cremosa e durável, e um aroma a maltes torrados e a chocolate que é muito do meu agrado.
O sabor corresponde ao aroma, maltes adocicados e fumados, chocolates (hum! chocolates na cerveja…) uma gaseificação moderada e um final na boca pouco amargo e que perdura, embora não excessivamente. Depois, tem aquela leveza muito querida aos que gostam de beber outra cerveja a seguir á primeira. E ainda repetir.
É pois uma cerveja cuja companhia me é muito agradável, e que, para finalizar, tem uma característica a seu favor: é tão agradável bem fresca no Verão, como bebida quase à temperatura ambiente durante o Inverno. Logo, a tal cerveja de todos os dias.


Kostritzer Schwarzbier: - **********



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posted by Vic at 12/02/2007 01:06:00 da tarde | 0 comments