Ruivas, Louras & Morenas

quinta-feira, 31 de maio de 2007


Há coisas que não precisam de grandes escritas para as descrever. A imagem é suficiente. Esta Bush Prestige é, certamente, uma delas. Na garrafa, gravado a dourado, a indicação que foi maturada à antiga e possui 13º de graduação - patamar que pode subir ligeiramente.
Na brochura que a acompanha, a indicação de que se pode manter por 2 ou 3 anos, e o conselho de que se guarde deitada, como o champanhe, e se endireite a garrafa algum tempo antes de ser servida a cerveja, guardando-a no frigorífico a uma temperatura de 6/8ºC.
Temperatura indicada para degustar - 10º. Que serão naturalmente alcançados se houver o cuidado de retirar a garrafa do frigorífico uns minutos antes de ir para a mesa.
A prova real do seu valor, ficará a aguardar uma data apropriada e suficientemente memorável.


Etiquetas:

 
posted by Vic at 5/31/2007 09:45:00 da manhã | 2 comments
quarta-feira, 30 de maio de 2007
O Medeia, bar/restaurante anexo aos Cinemas Medeia do Monumental, é um dos sítios de Lisboa com uma carta de cervejas mais extensa. Não muito, mas em comparação com o panorama algo desolador que, nesse aspecto é a nossa cidade, pode-se considerar um oásis.
A localização é excelente, com vista panorâmica sobre o Saldanha, e espaçoso o bastante para que não nos sintamos constrangidos com as conversas das mesas do lado, embora à hora do almoço se torne concorrido o suficiente para se tornar um pouco barulhento e demorar um pouco o serviço.
No que diz respeito ao comer, é o trivial que se serve nestes sítios, hamburguer ou pasta. No que me calhou desta vez, até que não estava mau, mas definitivamente, prefiro o meio da tarde, altura em que se podem comer umas tostas ou umas sandes de pão caseiro muito razoáveis. O serviço é simpático sem excessos.
Vamos então à cerveja. Além das nacionais, as incontornáveis Sagres e Sagres Bohémia, há, tiradas à pressão, a Grimbergen e a Hoegaarden, esta a poder ser servida em copos de 25cl e 40cl. Em garrafa, a já citada Grimbergen em várias versões, a Judas, várias Leffe, Bud, Judas, as três variedades da Chimay, Duvel, e mais uma ou outra que não anotei.
Optei por uma Leffe Vieille Cuvée e a minha companhia de sempre, por uma Hoegaarden de pressão, 25cl, ambas servidas em copo da marca respectiva. A Hoegaarden vinha fresquíssima no seu sabor a citrinos e a minha a uma temperatura que oscilava entre os 8 e os 10º, o que mostra que há da parte dos responsáveis pelo local, os conhecimentos necessários para poderem oferecer um serviço adequado.
Um bom local, principalmente naquelas horas mais sossegadas do meio da tarde.


Etiquetas:

 
posted by Vic at 5/30/2007 10:42:00 da manhã | 2 comments
segunda-feira, 28 de maio de 2007

O acto de beber uma cerveja pode passar muito para além da banalidade. E tal, depende exclusivamente de quem a bebe. Hoje, não faço portanto a apreciação exclusiva de uma cerveja, mas de pormenores que poderão trazer um prazer maior ao acto de a beber.
É com certeza um ponto da maior importância a qualidade da cerveja. Duma má cerveja nunca se poderá extrair satisfação. Mas na minha óptica, haverá outras questões a ter em conta, e não vou falar da companhia ou do ambiente, que têm o seu peso específico.
Hoje, dedico-me exclusivamente à questão dos copos a utilizar.
Até há uns tempos atrás, para o bebedor médio em Portugal, qualquer copo servia. As cervejeiras forneciam uns banalíssimos copos para “imperial”, muitas vezes sem sequer o logo próprio. Parece-me que com o advento da Bohémia as coisas se alteraram um pouco, e talvez inspirados com o que se via lá fora, começaram a surgir artigos mais cuidados.
Na verdade, uma cerveja bebida em copo próprio, de preferência bonito, torna-se bem maius agradável.
E há muito tempo que as cervejeiras, nomeadamente as belgas, alemãs ou francesas, fazem questão de fazer servir as suas cervejas em copos personalizados - e eles mais que ninguém sabem o que melhor serve ao produto que vendem - muitos deles, autênticas obras de arte, como é o caso de algumas de que já aqui deixei fotografias, como da Delirium Tremens ou da Cuvée des Trolls, e que têm um apelo irresistível em quem consome. Podem ser mesmo consideradas mais valias para as suas cervejas. Um produto de marketing para levar muito a sério.
Experimente-se, por exemplo, beber a excelente Kwak no seu esplêndido copo (aqui em cima). É uma experiência surpreendente, e quem já o fez, sabe que parece permanecer em estado de graça e com um sorriso de beatitude até o precioso líquido se acabar.
Não sou um coleccionador de copos - ou de qualquer outra coisa relacionada com cerveja, o que considero uma bênção, dada a minha natural dose de preguiça - mas possuo alguns, os bastantes que me sirvam para beber os vários tipos de cerveja.
Aqui deixo a foto de um dos mais extraordinários que vi nos últimos tempos (diga-se desde já, que também extremamente caro)

Nota: Não falei das artísticas canecas alemãs, mas não se tratou de lapso. É que dessas, não possuo nenhuma.


Etiquetas:

 
posted by Vic at 5/28/2007 04:27:00 da tarde | 1 comments
domingo, 27 de maio de 2007
Gambas ao alho...
...tornedó de´foie-gras...
...leite creme queimado...
...Huuuummmm...

Spoooorting!!!!


 
posted by Vic at 5/27/2007 04:40:00 da tarde | 2 comments
sexta-feira, 25 de maio de 2007
Pode-se dizer que há cervejeiras cujo único fito é vender em grande escala, mesmo que tal se baseie em grandes campanhas promocionais, desproporcionadas em relação à qualidade do que vendem, e aquelas que têm como preocupação principal a excelência dos produtos que vendem.
Entre estas últimas, a Dubuisson tem lugar cativo.
Com efeito, percorre-se toda a sua gama, e não se detecta uma falha notória.
Estabeleci primeiro conhecimento com esta cervejeira através do, talvez, seu produto mais emblemático, a Bush Ambrée, cujo nome lhe confere uma conotação bélica, é certo, mas que não me impediu de travar conversações com aquela garrafinha de 25cl, numa versão ibérica e à qual a cervejeira substituiu o nome por Scaldis. E nem de propósito: aqueles 25cl, se não escaldam, aquecem e bem. A cerveja apresenta uma gola de espuma farta e medianamente insistente e a cor do líquido é um deslumbrante vestido ruivo e ligeiramente turvo. De imediato, se soltam pelo ar notas de frutas tropicais e especiarias e na boca, é espessa e equilibradamente amarga, com laivos de fruta madura. Apesar dos seus 12º de TA se fazerem notar bem na boca, trata-se de uma cerveja à parte pelo seu equilíbrio. No último gole, aconselho um recosto meditativo no sofá, gozando as últimas notas que aquele líquido nos deixa espalhado pelo ar e pelo corpo.


**********

A bem sucedida aventura com a Scaldis, levou-me a procurar as suas “irmãs”, com as quais travei conhecimento já com os seus nomes originais. A Bush 10,5º, que me surgiu numa garrafa idêntica à da Ambrée, é a loura da família, mas não se lhe deverá aplicar o epíteto de “loura burra”, e apesar da fama da irmã mais famosa, não se envergonha, mostra, também ela atributos próprios, um belo corpo cor de ameixa madura, muito cristalino, e que me lembrou o de alguns bons vinhos brancos. Os aromas a cereais e a fruta, fazem-se notar com alguma intensidade, e o TA não engana ninguém.


**********

Guardei para o fim (ainda existe uma Bush Prestige de 0,75l, mas essa…fica para uma ocasião especialíssima, e uma de Natal para essa altura do ano) aquela quue será, talvez, a mais apelativa visualmente, a Cuvée des Trolls, que acompanhei com um Travesseiro de presunto*. Exteriormente, tudo é extremamente atraente, da garrafinha negra ao rótulo também negro onde se destaca o texto em amarelo o divertido Troll, passando pela tampa igualmente negra onde sobressai o nome da cerveja e o boneco, ambos em dourado. Depois, foi servida num copo original, branco translúcido e igualmente muito apelativo.
Depois, a cerveja. E essa, não desiludiu, com a sua cor amarela alaranjada e a espuma alta e que não se esvai logo. Dela se evola um aromático misto de frutas e especiarias, suave, a condizer com um sabor a caramelo e malte muito persistente.
Esta cervejinha filtrada, como se designa no contra-rótulo, recorda-me de alguma forma a Duvel, o que será sempre um elogio. Dizem os cervejeiros que foram ajudados na elaboração, pelos Trolls, estória à qual, depois de a saborear, fiquei completamente receptivo. Estamos pois perante mais um mito urbano (ou nem tanto)


**********

*Receita do travesseiro de presunto
- 3 ovos
- sal, pimenta e cebolinho
- 50 gramas de presunto
Separam-se as claras das gemas, e batem-se em castelo. Juntam-se as gemas, batendo-se novamente para tornar a mistura homogénea. Aquecer na sertã uma colher azeite em lume vivo. Quando estiver quente, deita-se o azeite fora, e espalha-se a mistura pelo fundo da sertã, em lume médio. Temperar então com o sal e a pimenta, espalhando-lhe uma colher bem cheia de cebolinho e o presunto cortado em pequenos pedaços por cima. Enrola-se como as omoletes - esta operação, para os menos dados a estas coisas de cozinha pode-se tornar complicada, face à espessura que a mistura adquire com as claras em castelo, mas com paciência, consegue-se (uma espátula ajuda) - retirando-se logo a seguir, para não cozinhar demasiado e guardar a sua leveza.


**********

Etiquetas: ,

 
posted by Vic at 5/25/2007 02:10:00 da tarde | 4 comments
quarta-feira, 23 de maio de 2007

Aviso à navegação: atenção às viagens neste “barco”, que podem resultar agitadas. Trocando por miúdos, os 10,5º de TA são mesmo 10,5º.
Este produto da pródiga cervejaria Van Steenberge, de Ertvelde, Bélgica, é um produto muito estimável e no qual nada foi deixado ao acaso - e aqui mais uma vez chamo a atenção para o cuidado posto pelos responsáveis em todos os pormenores, mesmo os que parecem pouco importantes. A garrafinha está tão bem imaginada, que á vista descuidada parece de porcelana. Engano! É mesmo vidro, mas com uma fina capa de plástico branco a cobri-la. O rótulo é simples mas muito apelativo como se vê, e a tampa é dele uma réplica omitindo, no entanto, o nome. As indicações estão no contra-rótulo, embora haja mais completas. Não menciona copo a utilizar - mas no caso está á vista - nem a temperatura aconselhada para servir, que na minha opinião rondaria os 8, 10º.
Esta cerveja, que sofre a sua segunda fermentação na garrafa, é um verdadeiro espectáculo para os olhos e para o palato.
No copo, exibe uma espuma cremosa e abundante e muito persistente. O corpo, castanho chocolate, tem laivos disso mesmo. E de frutas e especiarias no meio do malte muito presente. A carbonatação, de certo modo intensa, dá-lhe alguma leveza. Mas cuidado, a moderação é aconselhável, aliás como sempre, que o exagero acaba sempre por retirar todo e qualquer prazer.
No fim, pensa-se que os cervejeiros da Van Steenberge, ou os Vikings lhes legaram a fórmula de uma das bebidas dos deuses quando desembarcaram dos seus drakares na Flandres, ou são druidas dos tempos modernos.


**********

Etiquetas:

 
posted by Vic at 5/23/2007 06:44:00 da tarde | 2 comments
domingo, 20 de maio de 2007

Se há nomes cujas origens despertam a curiosidade, esta Brugse Zot será, certamente, uma delas.
Um amigo, sabendo-me de viagem até Bruges recomendou-ma e como aquela era uma indicação a ter em muita conta, anotei-a.
A cidade, que já de si é uma obra de arte, apresentou-se-me num dia glorioso de sol, o que é para festejar por aquelas bandas, e para o almoço, sentei-me numa esplanada acolhedora, onde me apresentaram com presteza a lista. Claro que não comi mexilhões! Detesto mexilhões! Mandei vir um peixe - excelente - e na carta das cervejas…a surpresa: havia duas Brugse Zot, a loura e a dubbel (há ainda uma trippel, mas essa não constava). Ponderei e escolhi a dubbel.
É talvez das cervejas mais bonitas depois de deitada no copo: um colarinho alto e persistente, cobrindo um corpo de um belo castanho avermelhado. O aroma de caramelo chamava-me e o sabor a malte com especiarias e agradavelmente frutado é “guloso”, apesar dos seus 7,5º taxa alcoólica sejam para ter em conta, pese embora o facto de parecer não se fazer notar. Mas engana!
Este produto da micro-cervejaria local, De Halve Maan, é um exemplo. Excelente a cerveja, garrafa esguia com rótulo muito bonito e o contra-rótulo informativo.O copo em que é servida…está à vista: muito atractivo.


brugsezot

E o nome? Os habitantes de Bruges, são (ou eram) conhecidos na Flandres como os “Loucos de Bruges”. Ao que parece, a procissão do Sangue Santo era muito animada, talvez devido ao excesso de cerveja ingerida pelos participantes. Com efeito, trata-se de uma procissão muito peculiar ainda hoje, um verdadeiro espectáculo de diversão. Quando o Imperador Maximilian da Áustria tomou conta da Flandres em resultado do seu casamento com Mary da Burgundy, assistiu à tal manifestação e ficou impressionado. No dia seguinte, quando questionado pela população sobre a localização do novo manicómio, Maximiliano respondeu-lhes que poderia ser mesmo ás portas da cidade, uma vez que Bruges era uma cidade de loucos. E o manicómio acabou mesmo por ser erguido no século seguinte.
Como nota pitoresca, e uma vez que se fala de cerveja e de hospitais, que ainda hoje na Bélgica, os hospitais servem a bendita bebida aos seus doentes (acredito que não a todos).


**********

Etiquetas:

 
posted by Vic at 5/20/2007 10:24:00 da tarde | 0 comments
sábado, 19 de maio de 2007
Uma “morena”:Gulden Draak
Morena
Eva Longoria

…uma “loura“: Pilsner Urquell
Loura
Charlize Theron

…ou uma “ruiva”: Fruto Proibido
Ruiva
Heather Christensen
 
posted by Vic at 5/19/2007 06:28:00 da tarde | 2 comments
sexta-feira, 18 de maio de 2007

A primeira coisa que me chamou a atenção na Colomba foi o seu belo rótulo prateado, com uma patine que lhe empresta uma aspecto de coisa antiga e respeitável.
Depois, quando vi que era originária da Córsega, a minha imaginação voou para o meio do Mediterrâneo, em pleno Verão, e não resisti a abrir a garrafinha da Brasserie Pietra.
A espuma é abundante, bonita mas que se esfuma rapidamente. O líquido é de um amarelo pálido e turvo, o que não admira visto tratar-se de uma cerveja branca, mais propriamente como refere o rótulo, “Biére Blanche aux arômes de Maquis”. Confesso que não sei o que é maquis. Procurei na net, e a única referência que encontrei foi a de que se trataria de um arbusto de climas quentes. Deve ser isso, embora não lhe refiram o aroma. Há também, e essa é uma referência para muita gente, que Maquis era a forma como se denominava a Resistência Francesa durante a segunda guerra mundial, mas deverá ser essa que vem ao caso Embora a Colomba seja uma cerveja aguerrida, sem ser agressiva.
Ao nariz, chega um aroma discreto a citrinos, enquanto no sabor, essa tendência se torna bastante acentuada: limão, tangerina, ou mesmo a toranja, talvez, com um final muito peculiar e personalizado, embora algo amargo o que pode desagradar a alguns, mas de que gostei sinceramente. Tanto que me deu vontade de abrir outra logo a seguir.
Bebendo-a muito fresca em copo alto, ficou-me a ideia de que, graças àquele sabor misto de limonada e cerveja e o moderado grau alcoólico apresentado (5º) seria a bebida ideal para um fim de tarde de muito calor, na esplanada de um bom hotel em Ajaccio, face ao mar.
Eu, que nem sou um grande apreciador de witbiers, vi-me facilmente rendido aos seus pacíficos e tropicais atributos.


**********

Etiquetas:

 
posted by Vic at 5/18/2007 09:00:00 da tarde | 0 comments

É conhecida a fama de chauvinista gozada pelo francês. É também reconhecido o hábito do português se queixar constantemente de que somos pequeninos, e que lá fora é que é bom. E no entanto, nestas coisas da cerveja, os papéis invertem-se completamente. Quantas vezes já não ouvimos nós dizer a um amigo que “A nossa cerveja é considerada uma das melhores do mundo”? Quantas vezes vimos apregoadas medalhas ganhas pelas nossas cervejeiras? Neste último caso, acontece nunca ter percebido bem que entidades são estas que atribuem tais prémios, ou a sua credibilidade. Já quanto à afirmação patriótica, vejam só o que um crítico estrangeiro insuspeito diz relativamente à Super Bock:
- "Esta portuguesa tem uma espuma efémera. O seu aroma surpreende, mas não no bom sentido: por detrás de um malte ligeiramente torrado, escondem-se notas de cloro, bastante nítidas quando se deita a cerveja no copo. Este odor pouco agradável, sente-se igualmente no gosto. Muito pouco agradável!
Enfim, um dia ainda me hão-de explicar o que fazem xarope de glucose e antioxidante numa cerveja."

Como se vê, muito pouco lisonjeiro, para mais, apregoando a cervejeira proprietária, que esta é a cerveja mais vendida no País. O que a ser verdade, não abona muito em favor do nosso paladar. Devo acrescentar que o mesmo crítico é bastante mais benévolo em relação á Tagus, e quando chega á classificação, numa escala de 1 a 10, atribui 2 à SB e 5 à Tagus.
Considero que na comparação com a cerveja que se faz noutros países, nomeadamente Bélgica, França,, Alemanha ou Grã-Bretanha, só para citar países europeus, ficamos realmente a perder e largamente. Não direi o mesmo em relação a Espanha, o fosso não será tão acentuado, mas até aí, parece estar-se a evoluir no bom sentido. Passo a explicar: penso que as grandes cervejeiras por cá, são como um grande eucaliptal que seca tudo á sua volta. Aparece uma pequena cervejeira e de pronto se tenta o sua sufocação, talvez graça a uma lei de mercado que não protege o pequeno produtor. Creio que o que tem tornado o mercado cervejeiro belga reputado em todo o mundo - distinção que merece inquestionavelmente - é a existência de uma quantidade enorme de micro-cervejeiras, em grande parte familiares, das quais saem produtos de qualidade extra. A França, país vinícola por excelência, mas que nem por isso menospreza o sector cervejeiro, vai pelo mesmo caminho. E a Espanha, lentamente, faz o mesmo.
Cá é o marasmo, são sempre os mesmos. Lançam-se um refrigerantes de sabores vários e apelidam-nos de cerveja (por vezes até penso que os cervejeiros lusos levam à letra aquela fábula que contam sobre o velho Pereira da Fonseca que terá dito para o filho no seu leito de morte:“Lembra-te meu filho, que até das uvas se faz vinho“). Isto é, variedades há, mas qualidade...Mudam-se as garrafas, inovam-se os rótulos - o que não está mal - e pensa-se que tudo mudou. Como diria o Giuseppe de Lampedusa “É preciso que algo mude, para que tudo fique na mesma ”. Parece-me a mim muito particularmente, é que seria na diversidade das fontes que estaria o segredo do progresso (louve-se aqui, algumas iniciativas inovadoras por parte da República da Cerveja).
Não penso no entanto que tudo esteja mal. Veja-se o caso da Sagres Bohemia que me parece ser uma cerveja ruiva muito bem concebida - é a minha cerveja nacional preferida - e equilibrada: boa espuma que se mantém razoavelmente, carbonatação no ponto certo, aroma e paladar agradáveis e que aguentam bem algum excesso de refrigeração com que por vezes é tirada, no caso de ser cerveja de barril. Uma cerveja que demonstra que por cá também se conseguem artigos de bom nível.


**********



- Quando referia o chauvinismo francês, lembrei-me que por França, em qualquer bar ou restaurante em que se entre e se peça cerveja a copo, há sempre duas ou três marcas - principalmente da Kronenbourg -, mais uma Grimbergen ou outra belga qualquer em alternativa. Por cá, quem quer uma “imperial”, não sei se encontrará local onde a SB e a Sagres coabitem. Cerveja estrangeira de barril então, é como procurar agulha num palheiro. São os tais proteccionismos que se não entendem e que só resultam em acomodações pouco recomendaveis e com as quais o consumidor nada beneficia.

Etiquetas:

 
posted by Vic at 5/18/2007 09:00:00 da manhã | 0 comments
quinta-feira, 17 de maio de 2007

A Unibroue é uma cervejeira canadiana, sedeada no Quebec, e pelo que se pode constatar, trata-se de uma empresa extremamente cuidadosa. Nunca apreciei muito frases feitas ou ditados populares, mas aqui justifica-se a utilização plena daquela que diz que “os olhos também comem”. Na verdade, uma garrafa bonita e bem apresentada despertará seguramente mais a atenção do que uma vulgar, de rótulo descuidado, e sobretudo, falho de informação. É claro que, se a cerveja for má, nem a apresentação lhe vale. Felizmente para nós, não é este o caso. Além do bom gosto manifesto das garrafas e dos rótulos, dos quais constam todas as indicações exigidas desde as características da cerveja até ao tipo de copo a utilizar, a qualidade do líquido acompanha a da embalagem ou supera-a até.
Tendo lido favoravelmente sobre os produtos da brasserie do Quebec, quando deparei com elas numa área comercial em Espanha, não hesitei e trouxe dois exemplares de cada um dos tipos que havia em venda: Eau Bénite, Maudite e Trois Pistoles, aqui discriminadas por ordem crescente do grau alcoólico de cada. E foi precisamente por essa ordem que elas começaram a desaparecer - uma opção de prioridade como outra qualquer - com grande prazer do paladar.
Da Eau Bénite se poderá dizer que se trata de uma loira turva, de espuma pouco consistente, e um aroma frutado em que o malte não tem presença acentuada. Apesar do teor alcoólico demandar os 7,7º, trata-se de uma cerveja leve e de consumo fácil, com um gaseificado no ponto e o seu sabor a fruta madura a permanecer com insistência na boca. Extraordinariamente equilibrada, é uma cerveja…benta.


**********


Já a Maudite (strong beer on lees, como a identifica o rótulo) é uma ale de alta fermentação (diferente contudo das belgas), morena e atrevida no seu vestido ambarino escuro, com espuma abundante que se desfaz num abrir e fechar de olhos, traz consigo um perfume que permanece pelo tempo certo e um sabor cremoso e algo complexo mas onde parece existir um travo a trufa, e aquela ponta de amargo que se exige. Uma cerveja cheia de carácter nos seus 8º, sem se tornar agressiva, o que diz do seu equilíbrio.


**********


Resta a Trois Pistoles, previsivelmente a mais ousada das três. Ando a evitar o encontro, pois só de pensar em ver a despensa amputada das preciosas garrafas me cria uma angústia…


Copo aconselhado(para ambas): Maudite

Etiquetas:

 
posted by Vic at 5/17/2007 09:00:00 da manhã | 2 comments
quarta-feira, 16 de maio de 2007

Parecia que as descaradas me piscavam o olho cada vez que passava por elas. Elegantes nos seus rótulos azuis onde refulgia o distintivo emblema das cervejas trapistas, há uns tempos que me tentavam. Juro que por vezes, sonhei que me assobiavam.
Naquela tarde decidi-me: é hoje que se acabam as provocações. Sabia que aquilo era demasiado só para mim: 75 cl cada garrafa vezes duas, dava litro e meio de cerveja cheia de têmpera, que me ia deixar de rastos, se não pior. Aqui chegado, havia que arranjar alternativa, e para tanto bastou-me um telefonema.
A resposta do outro lado veio rápida:
- É para já?
- Mais duas horas, tenho que arranjar acompanhamento.
Meti as garrafinhas no frigorífico - hora e meia e ganhariam a temperatura ideal - e saí para comprar algo digno da bebida. Cheguei ao destino indeciso, mas à vista de um presunto 5J Sanchez Romero, perdi as dúvidas. Pedi que me cortassem umas fatias à mão (podem acreditar os que nunca experimentaram, que não tem nada a ver com o presunto embalado, nem mesmo com o cortado na máquina, que acaba por “queimar” a carne) e arranjei um queijo da Idanha para acompanhar. Ainda pensei num picante de Castelo Branco, mas ponderei que o sabor seria demasiado intenso, e o mais provável é que ocultasse completamente o sabor da cerveja. Uns pacotes de pão de alho não demasiado condimentados, finalizaram o “pacote”.
A abertura da primeira das duas foi quase um cerimonial, executado com os cuidados que uma obra daquele quilate exige. A rolha saltou, e com ela uma espuma cor de caramelo e densa, a cobrirem um líquido escuro e robusto. Espalhou um aroma de frutos e especiarias, ao qual correspondia um sabor idêntico, que percorria lentamente as paredes da boca. E se deixou ficar, preguiçoso, como se quisesse que nunca mais o esquecêssemos. O que, naturalmente, conseguiu. A segunda, foi aberta ainda com mais cuidados, pois que foi grande o respeito que a primeira impusera. Sim, que aqueles 9º indicados no rótulo, não enganam.
A Chimay Grande Reserve é uma senhora cerveja. E às senhoras, há que tratá-las com respeito.

Ao que parece, sobraram umas fatias de pão de alho…

**********


TrappistLogo
Nota: - A Chimay Grande Reserve "aguenta" bem um envelhecimento na garrafa. Diz-se que ao fim de 5 anos se parece com um bom Porto. Não duvido

Etiquetas:

 
posted by Vic at 5/16/2007 09:00:00 da manhã | 4 comments
terça-feira, 15 de maio de 2007

Quando há uns anos visitei Cannes, ainda a questão cervejeira se não me punha com acuidade. Por miúdos, a cerveja era uma bebida semi-alcoólica a meio caminho entre o refrigerante e o vinho. Nunca me tinha merecido muita atenção, até porque as que tinha bebido até então, nacionais geralmente, nunca me tinham seduzido o suficiente para me fazer parar para pensar sobre as suas virtudes.
Naquela tarde, os meus olhos vinham cheios de azul mediterrânico e daquela bela marginal, de sonhos para tantas starlets, do Carlton…Cansado, sentei-me numa pequena esplanada numa ruazinha paralela à avenida do mar, dos iates, dos hotéis e das ourivesarias, e pedi uma cerveja. O empregado, simpático, debitou umas poucas de marcas, mas eu fiz-lhe saber que era indiferente.
Trouxe-me um copo redondo de pé alto, que me chamou a atenção, estando eu habituado desde sempre aos copos das “imperiais”. Tinha estampado o rótulo da Grimbergen, e nele borbulhava insistentemente uma “loura” que tinha muito de comum com o sol que inundava a cidade europeia do cinema. Provei-a e tive um pequeno sobressalto. O seu sabor pronunciado e o aroma frutado, identificavam-se perfeitamente com os canteiros floridos e bem tratados que eu deixara á beira-mar
Talvez tenha sido esse, o momento de viragem no meu interesse pela “bebida dos monges”, como lhe costumo chamar. E na verdade, a Grimbergen, nas suas 5 variantes - Blond, Dubbel, Tripel, Optimo Bruno e Cuvée de l'Ermitage - até é uma cerveja de abadia, embora os monges tenham entregue a exploração comercial à cervejeira belga Alken-Maes. E a comercialização em massa, reflecte-se naturalmente na qualidade do produto.
Desde então fui conhecendo muitas outras que a ultrapassaram largamente nas minhas preferências, mas a Grimbergen continua a ser uma memória, e de cada vez que vou a França, faço questão de beber ao menos uma.


**********


grimbergen

Etiquetas:

 
posted by Vic at 5/15/2007 09:10:00 da manhã | 0 comments
segunda-feira, 14 de maio de 2007

O livro lançado por FJV há uns tempos, foi de certa forma, um dos impulsionadores deste espaço. É conhecido, e o autor dá conta disso mesmo, que, havendo muita literatura nacional sobre vinhos, sobre cerveja nada se encontra. Foi pois com satisfação que li e reli o opúsculo, muito bem apresentado e escrito, e serviu-me ele de guia para procurar conhecer algumas cervejas das quais nunca tinha ouvido falar.
É óbvio que não coincidimos em algumas apreciações, mas nestas coisas em que o gosto individual prevalece, é o que é normal acontecer. Já no intróito que escreve, aflora pontos importantes na consideração a ter pelas cervejas, e aí estou em perfeita sintonia.
Como ele diz, não se deve beber uma cerveja com qualquer espécie de preconceito (máxima que, parece-me, se deverá aplicar a quase todas as decisões na vida). Contudo, manifesto desde já a minha pouca simpatia pela cerveja de lata - por muitos tratamentos que façam ao vasilhame, parece-me que alguma oxidação da bebida permanecerá sempre, adulterando-lhe o sabor - bem como beber cervejas da garrafa, atitude leviana que obsta a que a cerveja se solte completamente.
Este último aspecto, aliás, é muito interessante. Por cá bebe-se no copo que estiver mais à mão, embora em alguns estabelecimentos já se revelem alguns cuidados. Contudo, é tão aconselhável beber uma cerveja trapista belga num copo estreito e alto, como saborear um bom champagne numa caneca de esmalte. Mas este é assunto para um capítulo especial.

kwak

Etiquetas:

 
posted by Vic at 5/14/2007 10:00:00 da manhã | 4 comments
Beer2007

Num país visceralmente vinícola, o apreciador de cerveja é olhado por cima do ombro, talvez por não alinhar naquela que devia ser uma unanimidade nacional. Mas também porque desde há umas poucas de dezenas de anos, a cerveja é alinhada com o tipo que se encosta ao balcão a beber finos ou minis pela garrafa até cair, tal como, não há muito, acontecia com o bebedor de copos de 3 tinto, numa das muitas tascas entretanto desaparecidas.
Como apreciador de cerveja, vejo esta perspectiva como uma generalização pouco sensata, como afinal todas as generalizações.
Como apreciador de cerveja, gosto de ir, aos poucos, conhecendo as muitas cervejas que há espalhadas pelo mundo, saber-lhes as origens, diferenciar-lhes as qualidades e os defeitos.
Decidi-me pois, a criar um local onde pudesse dar conta dos meus passos na aventura cervejeira, mas que, ao mesmo tempo não se ficasse só por aí, avançando para outros campos de alguma forma com pontos em comum com a cerveja. Como a culinária, por exemplo. Ou outras, que até se podem vir a revelar uma surpresa.
Uma coisa se clarifica desde já, a que este sítio não se arrogará nunca o papel de guia, tão só onde escreverei como se falasse comigo próprio.
Já agora, e para que o nome do blog não suscite dúvidas ou enganos, tem a ver com o facto de haver cervejas ruivas, morenas, louras…Afinal, as cervejas têm muito mais em comum com as mulheres: há-as louras, ruivas, morenas, mais ou menos gaseificadas, umas mais robustas que outras, mas todas merecedoras da nossa admiração.


Ruivas


Ruiva1Ruiva


…Louras…


LouraLoura1


…e Morenas…


Morena1Morena

Etiquetas:

 
posted by Vic at 5/14/2007 09:10:00 da manhã | 4 comments