Ruivas, Louras & Morenas

sexta-feira, 28 de março de 2008
O clima anda estranho. Manda-nos em Fevereiro para a praia de calções e t-shirt, quando noutras eras nos aconselhava a serra da Estrela e as lãs. Em contrapartida, em Agosto estamos agora sujeitos a inundações ou a que neve no Alentejo.
Mas por muitas rasteiras que nos pregue, parece que ainda há certas zonas do nosso relógio biológico que não se deixam “levar”. E é assim que, como é hábito nos fins de Março, começa-me a chamar o corpo para a beira-mar e frescuras a condizer.
Foi por isso que passando uma vista de olhos pela “bieroteca”, não resisti ao apelo desta Kriek da Timmerman. Peguei-lhe, meti-a no frigorífico e pensei no que haveria de a acompanhar.
Decidi-me por um queijo de Seia, um serra meio-curado, ainda capaz de se barrar no pão, que ao caso foi uma excelente baguete rústica que o Corte Inglês costuma fazer - embora parcimoniosamente - e que, bem cozido como é hábito neles, estala a cada dentada. Pão guloso, este. E o queijo não o era menos.
Em relação á cerveja, já me confessei nada preconceituoso. É por isso que não ostracizo estas lambics, como alguns extremistas da cerveja “pura” fazem. Sabem-me bem frescas no ponto, seja a Kriek, seja a Framboise, passando pela Faro.
Foi uma coincidência, mas o certo é que tendo referido a acidez da anterior cerveja aqui descrita, a Earthmonk, não podia deixar de a referir também nesta, embora na circunstância, ela se misture convenientemente com o alegre adocicado da cereja. Podemos pois dizer que se trata de uma cerveja agridoce, como aquele prato de suíno que se come tantas vezes nos restaurantes chineses(?).
Sem uma espuma digna de reparo, apresenta aromas muito agradáveis à fruta que lhe está na origem, e uma bela cor rosada a condizer. O sabor não poderia ser outro. Há quem aponte a esta cerveja o “pecado” de ser demasiado comercial. Mas eu penso que a comercialização só estraga aquilo que na sua génese já não é bom. E esta cerveja da cervejeira Timmermans é bem boa dentro do seu estilo.
Timmermans Kriek Lambic - **********

Cervejeira: Timmermans-John Martin N.V.
Vol/Alc: 5,0% Abv
Ano: 2007
Tipo: Lambic
Copo: witte beer


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posted by Vic at 3/28/2008 10:02:00 da manhã | 6 comments
quarta-feira, 26 de março de 2008
Ora aí está aquilo a que eu chamo uma cerveja “difícil”. E não só porque foi produzida muito parcimoniosamente pelos já aqui celebrados cervejeiros Struise - ao que parece foi feita uma única produção em 2005/2006 de que resultaram 1.000 garrafas de 75 cl - mas também porque a cerveja tem uma textura ácida, estranha à maioria dos consumidores de cervejas mais correntes.
Com efeito, ao primeiro gole, e para o menos precavido, parece estar-se em presença de uma cerveja já “avinagrada” e portanto, imbebível. E aí vai ela pelo cano abaixo. E acaba por não se saber o que se perdeu.
Mas não, essa é uma peculiaridade do tipo de cervejas em que esta se classifica, as Flemish Sour Ales, tipo muito divulgado e apreciado numa zona da Flandres, e de que a cervejeira Rodenbach é talvez a mais conhecida produtora. Aliás, já aqui tinha falado deste tipo de cerveja, quando dei nota das minhas impressões sobre a Duchesse de Bourgogne.
Voltando à produção e ao número escasso comercializado, a história é um pouco estranho, pois de início, os Struise previam elaborar esta cerveja - cuja produção é complexa uma vez que mistura cerveja envelhecida em cascos de carvalho, com outra “do ano”, na proporção de 70 para 30 - de dois em dois anos, e em quantidade reduzida. Entretanto, já passaram os tais 2 anos, e não há notícia que os Struise tenham intenção de repetir a Earthmonk.
Agora sobre a cerveja: pelo que já referi, todos perceberam que necessita uma “educação” do palato. Espuma quase inexistente sobre um corpo muito escuro, quase negro. Os aromas, alguns deles a roçar os vinagres balsâmicos - cuidem-se - vão das madeiras exóticas às ervas aromáticas selvagens.
O sabor , se transmite alguns tons florais, é certo que a acidez tem papel preponderante. Contudo, como a cerveja é muito suave e licorosa, a sua degustação torna-se muito agradável, e acaba por ser uma experiência que gostaria de repetir. O que provavelmente não acontecerá, a confirmarem-se os rumores que aquela produção terá sido única.
Sinceramente, e a quem tenha possibilidades, aconselharia a degustação. Mas com as cautelas devidas
Earthmonk - **********

Cervejeira: De Struise Browers, De Panne, Belgica
Vol/Alc: 80% Abv
Ano: 2006
Tipo: Flemish Sour Ale
Copo: Goblet


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posted by Vic at 3/26/2008 04:21:00 da tarde | 0 comments
quarta-feira, 19 de março de 2008
Eu sei que é uma chatice repisar nas coisas, mas não podia deixar de referir que, pela primeira vez, consegui saborear a “melhor cerveja do mundo” em casa, envolvido por aquela tranquilidade que só o lar nos proporciona e que parece acentuar os prazeres que estas coisas nos proporcionam.
Claro que sei que a cerveja se pode considerar como a bebida de confraternização por excelência. Mas a confraternização faz-se também no calor familiar, ao que acresce uma paz quase sagrada, que não se encontra num bar nublado e barulhento.
Agora que fiz a apologia do ambiente de família, deixem-me fazer a apologia da bendita cerveja. Porque por muito que se fale da Westvleteren 12 e das suas virtudes, nunca nos parece demais, tal é a sua qualidade. Confesso-me desde já seu incondicional, mas creio que me perdoam o facciosismo, pelo menos todos aqueles que a conhecem pessoalmente.
Já há muito deixei explícito que, de todos os tipos de cerveja, o meu preferido é o trapista. Da divinal Rochefort 10 (talvez a minha cerveja nº1) à extraordinária Chimay Bleu, passando pelas várias Achel, Orval ou Westmalle, não encontro uma única que não esteja a um nível elevadíssimo, na minha escala de valores. E esta Westvleteren 12 está mesmo lá em cima, graças ao seu aroma e sabor absolutamente inacreditáveis.
Faço um aparte para falar de algo sobre o que por vezes se questionam alguns, e que tem a ver com o grau alcoólico versus qualidade da cerveja. E refiro-o agora, porque genericamente, as cervejas trapistas são muito generosas, nesse aspecto. Na minha opinião, o “segredo” de uma cerveja está no seu sabor e não no grau alcoólico que apresentam. Há cervejas excelentes com uma graduação claramente abaixo dos 5% Abv (que se poderá considerar a graduação média), enquanto que as há que, apresentando um Abv elevado, são execráveis.
Ora as cervejas trapistas têm o condão de serem tão equilibradas na elaboração, que todos os aromas e sabores - complexos, muito complexos - mantém quase indetectáveis os álcoois que nelas abundam.
Essa, portanto, uma das múltiplas virtudes do néctar fabricado pelos monges de Sint-Sixtus, e que lhe confere a honra se ser considerada por muitos, a “mãe de todas as cervejas” e a jóia da coroa, na experiência cervejeira de qualquer amador, vista até a louvada “avareza” dos monges, na quantidade anual de cerveja fabricada e posta à disposição da clientela interessada.
Não me alongarei na descrição da cerveja, até porque já o fiz em anterior ocasião. Dizer só, que todas os prazeres sensoriais da primeira experiência se repetiram e, se possível, se esmeraram.
E uma vez que falámos dos graus alcoólicos das cervejas: por vezes há quem se mostre muito admirado com a elevada graduação de algumas cervejas estrangeiras, especialmente as de abadias, comentando amiúde comigo que: “Pensava que as cervejas andassem todas pelos 5/6%. Porque é que “eles” as fazem tão fortes?”.
A resposta é simples e vem das calendas. A cerveja fazia parte da “dieta” dos monges, que na Idade Média passavam por longos períodos de jejum. Jejum que se resumia à comida sólida, entenda-se. Naturalmente, uma cerveja mais “encorpada” tornava-se mais nutritiva, e era assim que nos mosteiros se mitigava o sacrifício da abstinência.
Essa foi, não tenho dúvidas, a mola impulsionadora da qualidade das cervejas fabricadas nas abadias e mosteiros.

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posted by Vic at 3/19/2008 03:27:00 da tarde | 9 comments
Na minha recente visita a Amsterdam fiz um abreviado desvio até Bruxelas,que

resultou um pouco frustrante. Não a pequena viagem em si, mas o reduzido tempo de que dispunha, e que não me permitiu uma prospecção decente pela capital da Bélgica e com ela, a descoberta dos seus “tesouros” cervejeiros. Foi uma viagem relâmpago, num domingo - o que reduziu ainda mais o espaço de manobra visto o encerramento de muitos estabelecimentos - e que se iniciou com uma visita panorâmica da cidade (que não tem muito de assinalável, diga-se, ao contrário da extraordinária Brugges que visitara no ano anterior) a que se seguiu o almoço num restaurante da Rue des Bouchers, uns tortelinis maravilhosamente gratinados e tostados, regados por umas Tongerlo, uma dubbel blond e outra dubbel bruin, ambas servidas á temperatura indicada, sendo a bruin levemente superior à blond. A Tongerlo não pertence à “elite” belga, mas é certamente uma cerveja de qualidade e que merece referência.
Depois da inevitável visita ao Manecken Piss e uma mirada às Galerias St. Hubert, uma saltada a um dos “emblemas” da cidade, o incontornável bar “A la Mort Subite”, que se encontrava literalmente esgotada. Depois, a procura de lojas de venda de cerveja - já frisei, o facto de ser domingo, restringiu bastante a procura - e a primeira que encontrei foi a Délices et Caprices. Ã variedade não era muita, embora tivesse visto por lá algumas curiosidades com preços não muito excessivos, apesar da loja ficar bem no centro do percurso turístico. Mas assinalável de facto, é a simpatia de Peter, o jovem dono da lojinha, e ainda o facto de não se dedicar somente à comercialização de cervejas, mas ter tam~bém um recanto no seu espaço, dedicado à degustação de cervejas no local, evento para o qual, a verificar-se, o Pierre tem sempre reservados uns queijinhos belgas, para servir de lastro. Convidou-me para uma sessão, convite que declinei na altura, mas que prometi aceder numa próxima visita.
A derradeira visita antes do regresso a Amsterdam foi ao Beer Temple, na Rue du Marché aux Herbes. Aqui é tudo mais impessoal, mais comercial, embora o tratamento seja simpático e muito profissional. Variedade incrível de cervejas, copos e conjuntos de oferta. Tudo belga, pois claro, que nisto os belgas não brincam e no que diz respeito às cervejas, o chauvinismo é muito bonito. Portanto, se alguém espera encontrar por lá as boas cervejas inglesas ou norte-americanas, desiludam-se. Foi precisamente no Beer Temple que encontrei as Westvleteren a um preço mais acessível.
E foi na companhia de 4 das preciosas garrafinhas de Westvleteren 12 que regressei a Amsterdam, na esperança de que a próxima visita a Bruxelas tivesse lugar muito brevemente


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posted by Vic at 3/19/2008 12:11:00 da tarde | 2 comments
domingo, 16 de março de 2008
Como já referi há uns tempos alguns amigos “virtuais”, animadores do excelente fórum do Cervejas do Mundo, amantes da cerveja - tanto que se abalançam alguns deles a fazê-la em casa, e, ao que sei, com excelentes resultados - resolveram promover um concurso de cerveja caseira, no dia 25 de Maio próximo.
Não precisaram eles de mais incentivos que a opinião positiva de alguns amigos sobre aquilo que produziam. Não necessitam, portanto, de mais nada a não ser a sua paixão pela bela bebida, e o talento para “mexerem” com os maltes e os lúpulo, e as águas’ para alem de mais algum condimento que alguém mais inovador queira acrescentar.

Porém, e porque se trata de um caso exemplar, não queria deixar de mencionar uma história exemplar e que demonstra como o “amor á arte” pode dar outros frutos, para além da satisfação pessoal.
Com efeito, os Struise - em inglês Sturdy (resistente), o que já dá ideia da fibra dos ilustres - são quatro amigos (Carlo, Urbain, Phil e Peter) cervejeiros…sem cervejeira. Reuniram-se como amadores e aventuraram-se na produção nos tempos livres, há uns anos atrás. Desenvolveram ideias e foram divulgando as suas pequeníssimas produções - há uns 7/8 anos atrás limitavam-se a uma produção de 30 litros para consumo pessoal - e verificaram que os produtos eram de excelente qualidade, o que os fez pensar em desenvolver as suas capacidade. O único entrave era a falta de capital, mas tiveram a sorte de encontrar o dono de uma cervejeira pronto a rentabilizar as suas instalações, e é assim que se iniciam na produção comercial na Brasserie Caulier, onde se mantiveram durante três anos, espaço de tempo em que a sua produção foi em crescendo, desde os 30 hl em 2002 até aos 150 hl de 2005. Em 2006, tendo em vista uma produção de 300 hl decidiram alugar uma cervejeira mais ampla, a Deca, localizada em Vleteren, muito perto do Convento de Sint-Sixtus, onde os monges continuam a produzir as maravilhosas Westvleteren.
Mas mais importante que a evolução nas quantidades de cerveja produzida pelos 4 amigos - que espantosamente continuam a dedicar-se à arte cervejeira em part-time - é a qualidade fora do comum das várias cervejas que fabricam, entre elas a extraordinária ale Pannepot e a muito elogiada (por quem já teve a sorte de a provar) stout Black Albert.
Naturalmente, e como nestas coisas a palavra passa depressa, De Struise Browers viram-se nas bocas do mundo, e os seus produtos passaram a ser desejados por todo o lado, mais ainda desde que os grandes sites de amadores cervejeiros como a Ratebeer ou a Beer Advocat, elegeram várias das suas cervejas, como das melhores do mundo, tendo sido nomeados como cervejeiros do ano de 2008, dando-lhes assim uma outra visibilidade.
Ora, se esta espécie de "conto de fadas" dos tempos modernos não inspirar os nossos amadores cervejeiros, o que os inspirará?


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posted by Vic at 3/16/2008 01:14:00 da tarde | 2 comments
sábado, 15 de março de 2008
Se há frase que detesto é aquela do: “Eu não dizia?”. Principalmente, porque a frase tem uma conotação negativa e eu detesto ser pessimista. E nestas coisas da cerveja, se falamos de cerveja lusa, eu gostava de um dia ter motivos para cantar loas, adorava que se me esgotassem as palavras elogiosas para com um produto nacional.
Para mal dos meus pecados (e de mais uns quantos, penso eu), parece-me que esse dia ainda está longe. Aliás, pelo andar da carruagem, receio que nunca suceda.
Vem isto a propósito do último milagre anunciado pela Unicer, pomposamente denominado de Gourmet, e que ainda há poucos dias aqui referenciei.
Ora bem, um dia destes apareceram-me no supermercado e decidi comprar um pack de cada tipo, Rubi e Gold - compra que dava direito a um copo “exclusivo”.
Chegado a casa, meti uma de cada tipo no frigorífico, e aguardei ansiosamente porque refrescassem suficientemente, e ao jantar abri a Rubi.
Se há palavra que designe a cerveja, essa é “desilusão”. Pois é, não conheço o “pai” do produto, mas pode limpar as mãos à parede: cheiro, não tem nenhum, ou então eu estava como uma fortíssima constipação e não dei por isso. Sabor…qual sabor? Nem coragem tive para me “atirar” à Gold - auguro ser do mesmo nível - que permanece muda e queda no frigorífico, à espera da minha boa vontade.
Bem, não me quero alongar muito. Acrescento que esta não é definitivamente a “next big thing”, e que senti saudades da velha Bohemia.


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posted by Vic at 3/15/2008 09:27:00 da tarde | 2 comments
terça-feira, 11 de março de 2008
Já aqui enfatizei a importância que para mim tem a apresentação exterior das cervejas. É evidente que se a qualidade da bebida não acompanhar razoavelmente a vestimenta, esta torna-se um desperdício. Mas penso sempre que essa vertente tem muito a ver com o respeito que as cervejeiras têm pelo público. Depois, há que ter em conta aquela máxima de que “os olhos também comem (ou bebem, no caso).
Ora neste aspecto, os produtos da cervejeira inglesa de St. Peter’s são exemplares. E para mais, a qualidade das suas cervejas está bem de acordo com a sua apresentação.
Calhou-me desta vez a Cream Stout. De aspecto irrepreensível, espuma generosa, bege e muito “creamy”, apresenta a cor habitual neste tipo de cervejas, muito escura, quase negra e soltando acentuadas notas de maltes bem torrados e chocolate, e algumas tonalidades de fumeiro.
Devo dizer que me converti às stout há relativamente pouco tempo - afinal estamos num país onde dominam as lagers - , graças a uma bendita Imperial Stout de Samuel Smith, também ela inglesa, e desde então, é dos meus tipos de cervejas preferidos, compreendendo hoje melhor a sua predominância nos lugares de topo dos rankings dos amantes cervejeiros.
Feito este aparte, do sabor pode-se dizer que é exemplarmente suavíssimo mas encorpado e complexo, um misto de cafés, chocolates, maltes torrados, e um final adocicado, mais uma vez em tons de chocolates negros e café, e que permanece na boca por longo tempo, como se pretende. De álcool, nem sinal, o que diz bem do equilíbrio desta bela cerveja.
Pelo que fica dito, esta é uma daquelas cervejas a que eu costumo chamar de “fáceis”. Talvez isso esclareça algo sobre a sua índole.

St. Peter‘s Cream Stout - **********

Cervejeira: Fuller Smith and Turner PLC, UK
Vol/Alc: 6,50% Abv
Ano: 2007
Tipo: Sweet Stout
Copo: Pint glass


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posted by Vic at 3/11/2008 01:59:00 da tarde | 5 comments
sábado, 8 de março de 2008
Quantos de nós não ouviram já alguém dizer que “a Super Bock é a melhor cerveja do mundo”? Ou que “a Sagres é a melhor cerveja do mundo”? Claro que qualquer das frases serão algo disparatadas, mas nada de grave. Não acredito que algum “cervejeiro” mais radical fique ofendido ao ouvir tal “boutade”. Concedo que muita vez, o que “faz” a cerveja é a companhia, o momento, e que o desabafo não passará afinal de uma exaltação momentânea. Mesmo, porque até para mim que neste aspecto, sou um bocado exigente, em determinado momento, alguma sofrível cerveja tenha sido “a melhor do mundo”.

Vem isto a propósito do anúncio do recente lançamento pela Super Bock, de 2 cervejas designadas de produto Gourmet, a Abadia Rubi e a Abadia Gold, sendo que, alegam os produtores, que se trata de cervejas premium indicadas a concorrer com o vinho a preços competitivos, uma vez que serão indicadas para acompanhar refeições. A rubi, para as carnes, e a gold, para peixes e mariscos.
Não sou dos que dizem que “o que vem de fora é que é bom”, embora neste espaço as cervejas lusas quase não tenham expressão. A verdade é que também não sou chauvinista, e friamente, tenho que considerar que, neste particular, os nossos produtos são algo frustrantes. E eu gostava que fosse de outra maneira. Por isso, quando surgem novas fórmulas, renasce a esperança que “desta, a coisa vai”. Agora, e como aconteceu quando a Unicer anunciou a criação de uma cervejeira artesanal, destinada a produzir cervejas exclusivas e especiais.
Ainda não tive oportunidade de conhecer estes dois produtos, mas tenho uma expectativa moderada. Há uma faceta que me deixa de pé atrás, que é o facto de ambas se chamarem de “Abadia”, uma vez que a Abadia original da SB deixa muito a desejar, e descender dela não é nada bom sinal. Mesmo a designação de premium pouco me diz, antes pelo contrário, uma vez que na esmagadora maioria das vezes, o epíteto é utilizado pelas cervejeiras para assinalar cervejas ditas especiais, que depois se verifica não corresponder a uma qualidade superior do produto.
De qualquer forma, vamos aguardar que as apregoadas “gourmet” cheguem aos escaparates, para verificar se é desta que começamos a ter produtos de qualidade e capazes de fazer alguma sombra ao muito de bom que recebemos lá de fora.
Nota final para referir a “imagem”, muito diferente do que é habitual em garrafas de cerveja, e que se anuncia que o preço será de 3,49€ o pack de 4x33cl.



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posted by Vic at 3/08/2008 01:21:00 da tarde | 7 comments
sexta-feira, 7 de março de 2008
Por vezes chegam-me às mãos edições especiais, que, na maior parte das vezes confirmam ser mesmo algo de muito especial, como é o caso de duas Fuller’s Vintage Ale, que vinham embaladas de forma requintada, cuidado que é imagem de marca dos ingleses, e que significa desde logo, o grande respeito demonstrado pela sua clientela.
A Fuller Smith and Turner PLC é uma das instituições britânicas, e reconhecida pelos produtos de alta qualidade - quem não conhece a Fuller’s London Pride? - e em 1997 decidiu proceder à elaboração anual de uma cerveja distinta e em quantidade limitada, engarrafada e numerada, de modo a conceder-lhe assim um estatuto de cerveja Vintage, e que pode ser consumida de imediato ou deixada em maturação durante 3 ou 4 anos, o que certamente lhe acrescentará qualidade à muita que já traz consigo.
De um castanho avermelhado, quando cai no copo forma uma espuma cremosa e moderada, que não tem grande continuidade, mas sobretudo solta notas aromáticas de passas e algum malte torrado.
Na boca, o líquido cremoso, inunda as papilas suave, mas com densos sabores a maltes e frutas secas. Muita fruta seca. E certamente, um fundo vinícola pronunciado, até porque a carbonatação é quase despicienda, o que a afasta um pouco da perspectiva tradicional que se tem por cá de uma cerveja.
Claro que sendo uma cerveja especial elaborada por uma cervejeira acima de qualquer suspeita, só podia ser um produto fora do comum e que sobe bem alto na escala da apreciação.

Fuller‘s Vintage Ale - **********

Cervejeira: Fuller Smith and Turner PLC, UK
Vol/Alc: 8,50% Abv
Ano: 2007
Tipo: Old Ale
Copo: Goblet


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posted by Vic at 3/07/2008 12:08:00 da tarde | 4 comments
sábado, 1 de março de 2008
Por muito que se viva, nunca se esquece o calor do colo materno. Mas há mais coisas perduráveis na nossa vida. Há os amores e os sabores que nos acompanham sempre. Quanto a estes últimos, muitas vezes me lembro do arroz de tomate que era feito quando ainda o sabor do vermelhíssimo fruto não era abafado pelos omnipresentes sulfatos que tanto prazer da mesa nos retiram, ou as pataniscas de bacalhau que imperavam nos balcões das tascas, agora desgraçadamente substituídas por intragáveis antros de fast-food.
Mas há também os aromas. Como o do fumeiro da minha avó, tão intenso quando, na velha casa virada à serra e em dias frígidos de Janeiro, se decidia do destino dos porcos que eram alimentados com tanto desvelo durante todo o ano, mas sempre com o fatal destino marcado. Era um prazer - não muito saudável, sei-o hoje - abrir os pulmões àqueles cheiros, e olhar para cima, para as varas com as enfiadas de chouriços, morcelas, mouros e farinheiras, com vontade de acelerar o correr dos dias para mais depressa nos podermos deliciar com aqueles simples e ao mesmo tempo, ricos manjares.
Mas ao que vem a lenga-lenga? È que esta Aecht Schelenkerla Rauchbier é uma cerveja fumada (rauch=fumada) , e mal a abri…lá estavam os aromas do fumeiro da minha avó e foi para esse ambiente que me senti transportado.
É, fora de dúvidas, das cervejas com aroma mais intenso que já senti. E o sabor então, faz-me lembrar o anuncio da Duracel, “dura, dura, dura…”. Vertida no copo, tem o aspecto semelhante ao das “dunkel” - o que até nem se estranha muito, afinal são dois sub tipos de lager - muito escura, de espuma leve mas muito significativa e perdurável, embora perca o volume rapidamente. Se dos aromas e sabores - que evocam sem remissão um bom queijo ou um belo presunto pata negra para acompanhar - já falei, poderei acrescentar que a gaseificação, bem calibrada, ajuda à digestão de uma cerveja que, para alguns, pode parecer demasiado condimentada, para mais vindo aconchegada em garrafa de meio litro.
Resumindo, esta especialíssima cerveja que, conforme o rótulo se denomina de Aecht Schelenterla Rauchbier Urbock, é uma bebida vigorosa, diria que, para homens de barba rija, não fosse a frase nos tempos que correm politicamente incorrecta. Complementando a informação, o cuidado na apresentação deste produto da cervejeira Heller-Trum de Bamberg, é evidente, e, segundo consta, feita de acordo com a famigerada lei da pureza, que, já confessei, não me diz absolutamente nada, e quanto ao grau alcoólico - que nem se nota - atinge os 6,6%.
Uma nota final para acrescentar que teria sido aconselhável servi-la fresca e numa caneca. A temperatura foi respeitada, mas quanto às canecas, e para mal dos meus pecados, é coisa que não consta do louceiro.
Aecht Schelenkerla Rauchbier Urbock - **********

Cervejeira: Brauerei Heller-Trum
Vol/Alc: 6,60% Abv
Ano: 2007
Tipo: Rauchbier Urbock
Copo: Caneca


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posted by Vic at 3/01/2008 06:27:00 da tarde | 2 comments