Ruivas, Louras & Morenas

quarta-feira, 30 de julho de 2008
Em relação à cerveja, tenho um hábito, que já se me revelou muito compensador: geralmente, quando encontro à venda uma cerveja desconhecida e que decido experimentar, compro sempre, pelo menos, dois exemplares. E digo que tem sido compensador, porque já não é a primeira vez que sucede que, sendo a 1ª experiência pouco positiva, tenho a oportunidade de rectificar opiniões.
Sabe-se como é: por vezes uma questão de ambiente, de disposição, até dos maiores ou menores “ sobressaltos” porque passou a cerveja até nos chegar às mãos, faz de uma boa cerveja, uma péssima companhia.
Esta Spitfire (The Bottle of Britain), da Shepherd Neame, a cervejeira do Kent, é um exemplo excelente do que acabei de afirmar. O primeiro contacto com esta Ale bronzeada - belíssima cor, aliás - e de colarinho médio e cremoso, revelara-se desanimador. Hoje, não posso descrever os motivos de insatisfação, mas foram de tal modo que passou um par de meses até decidir atirar-me ao segundo exemplar. Mas em boa hora o fiz.
A Spitfire foi pela primeira vez elaborada em 1990 para celebrar a Batalha de Inglaterra, um dos grandes marcos históricos da Grã-Bretanha, e na qual os pequenos caças á qual a cerveja foi buscar o nome, tiveram papel de grande relevo. E de facto, a efeméride merecia uma comemoração à altura, como é o caso. Não se trata de uma cerveja muito odorosa, mas em compensação, o sabor encanta, com uma presença caramelizada muito acentuada.
Além do mais, esta cerveja demonstra que não é preciso um grau etílico elevado para marcar presença forte: estamos perante uns meros 4,5% Abv, mas o corpo é notável. É portanto, uma daquelas cervejas que dá gosto beber…á larga.
Que se poderá adiantar mais da Spitfire? Que, como acontece geralmente com as cervejas britânicas, e nomeadamente com as da fábrica do Kent, a apresentação é irrepreensível: uma garrafa de 0,5l muito bonita, bem rotulada e com informação detalhada. Tão atractiva, que dá pena deitar no lixo depois de consumida.


Spitfire, The Bottle of Britain - **********



Cervejeira: Shepherd Neame, Kent, Inglaterra
Vol/Alc: 4,5% Abv
Ano: 2007
Tipo: Kentish Ale
Copo: Goblet



Etiquetas: ,

 
posted by Vic at 7/30/2008 08:15:00 da manhã | 3 comments
terça-feira, 29 de julho de 2008
Como já relatei, durante uns dias ausentei-me para um recanto deste nosso país, daqueles onde parece que o tempo parou, pelo menos há umas décadas. Ali, pouca gente ouviu falar na rede, e chega a parecer anedótico verificar, que na própria sede do concelho, ali a uma dezena de quilómetros, não se encontra um hot-spot sequer, onde se possa aceder aos sítios. Nossos e dos nossos amigos. Leitura de blogs em atraso portanto.
Mas que diabo, uma licença sabática por vezes aconselha-se, e esta serviu para dar umas voltas às minhas notas e verifiquei que ainda não tinha editado as minhas impressões sobre umas boas três dezenas de cervejas, entretanto anotadas. Injustiça. Porque algumas delas são bem dignas de atenção.
Pode-se dizer que não há cervejas más? Talvez. Acho que se a companhia for boa, a má cerveja acaba por se tornar menos desagradável, ou pelo menos o momento, suaviza-nos o espírito crítico, e acabamos por olhá-la com alguma bonomia.
Mas, no que me diz respeito, e deixando de parte as circunstâncias de cada cerveja, penso poder dizer que há cervejas más, razoáveis, boas, excelentes e memoráveis. Das más, claro que não reza a história, e como já tenho referido, abstenho-me, o mais das vezes, de as classificar.
Não é o caso da Bavaria 8.6, uma cerveja holandesa que reputo de muito razoável.
É curioso o panorama cervejeiro holandês. Exceptuando as maravilhosas La Trappe, da abadia de Koningshoeven, pouco mais nos chega das terras baixas (a Heinneken será holandesa?) Isto apesar da reconhecida qualidade de muitas das cervejas elaboradas nas suas micro cervejeiras ainda sobreviventes, das quais a T’Ij é só um exemplo.
Esta Bavaria constitui uma das excepções. Boa, diria eu, porque merecemos, nós, os eternos adoradores da (por vezes) efervescente bebida, que destas cervejas nos cheguem. A primeira vez que encontrei esta holandesa, vinha num pack de 4 garrafas de 33 cl, acompanhadas do respectivo copo, uma tulipa, por sinal muito parecida com o da Gordon Finest Scotch ou Finest Gold.
Vertida no copo, deparou-se-me uma “gola” moderada, alva, e que se ia deixando ficar pelas paredes do copo. De corpo bronzeado e forte carbonatação, os aromas a frutas frescas e a maltes são acentuados, e o sabor torrado agradável, sem atingir, porém, o típico tostado das porters, das quais, aliás, esta cerveja se distancia e muito, que afinal, trata-se de uma lager. Muito encorpada - os 7,9 de Abv, que alardeia no rótulo têm absoluta correspondência na sua robustez - é uma cerveja que se bebe facilmente, mesmo em tardes suadas.
Uma cerveja adequada para acompanhar um bom queijo picante, como o de Castelo Branco.
Uma nota final para referir que os comentários que vim lendo na net sobre esta cerveja, não são muito abonatórios. Critica-se-lhe muitas vezes o adocicado excessivo. Sabe-se que este “truque” é muitas vezes utilizado para encobrir o teor alcoólico. Não concordo com este ponto de vista. Não sendo uma cerveja excepcional, ao menos, é honesta.
Aliás, muitas vezes discordo das qualificações expostas na RateBeer ou na BeerAdvocate - os mais populares sites de classificação de cerveja na net - nos quais me parece quase sempre presente, um certo tipo de proteccionismo das cervejas yankees em relação às do velho continente, excepção feita a algumas incontornáveis inglesas ou belgas.



Bavaria 8.6 - **********





Cervejeira: Bavaria Brouwerij N.V.
Vol/Alc: 7,9% Abv
Ano: 2007
Tipo: Strong Lager
Copo: Tulipa




Etiquetas:

 
posted by Vic at 7/29/2008 10:55:00 da manhã | 2 comments
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Este mês de Julho tem sido especialmente agitado.
As minhas ausências prolongadas justificam-se por obras em casa - umas previstas, outras nem tanto - e que se previam acabar pelos meados do mês, pelo que, não podendo viver no meio de barulho e pó, decidi ausentar-me, e aproveitar para ter umas férias em sítio isolado, para aí o equivalente ao Pulo do Lobo para onde o nosso ilustre Presidente Cavaco, na altura um primeiro ministro interessado em “não” saber das notícias, decidiu há anos passar um fim de semana.
Regressado, e como sempre sucede nestas coisas, as obras estavam longe de conclusão, e a casa mais parecia cenário de um filme sobre os bombardeamentos da Bósnia, e que me tirou toda a vontade de por cá permanecer, o que, como é evidente, evitou que, durante mais uma semana, eu debitasse algo sobre o tema do blog.
Por fim, livre do pesadelo, eis-me, e mesmo depois de saber expirado o prazo da Ronda, desta vez com tema proposto pelo nosso prezado amigo Chela - Cerveja ou Cervejaria? - não quero deixar de corresponder.
Se há uns anos a pergunta me tivesse sido feita, não hesitaria em escolher a Cervejaria. Por esses tempos, a qualidade da bebida não era importante. Poder-se-ia dizer, que era então, mais um bebedor de minis ou imperiais. Mas devido a motivos que decerto não vos interessarão muito, antes contribuiriam para vos maçar, pelo que vou omiti-los, deixei-me um pouco desses convívios, tendo-me tornado mesmo, um quase abstémio.
Voltei `cerveja, quando um dia me deparei com a tal extraordinária cerveja que já referi, a Duvel, e que me fez quebrar os meus “quase” votos. Chamou-me ela para uma outra forma de ver a cerveja, e, estou certo, hoje aprecio a nobre bebida com outros olhos, e respeito-a muito mais do que antes.
Vejamos então: para mim, o mais importante é a cerveja. Não sendo um bebedor solitário - aliás, nunca bebo só - o que mais aprecio é experimentar cá por casa novas cervejas, conhecê-las, e, naturalmente, se me agradarem, ir juntando algumas garrafas das minhas cervejas preferidas na minha “bieroteca” para meu futuro prazer. Posso dizer, que por cá nunca faltam as Chimay Bleu, as La Trappe Dubbel ou as Rochefort Trappiste 10, bem como algumas outras. E junto a elas, algumas novidades que vou encontrando, como estas lituanas da foto, que encontrei no ECI, e sobre as quais me debruçarei em altura oportuna.
Depois, e se acho que valem a pena, é convidar os meus mais chegados, para ter o prazer de os ver surpreenderem-se com a “nova” descoberta, o que me fornece uma dose extra de prazer. Porque se há coisa que, creio, agrada a todos, é poder partilhar com aqueles de quem se gosta, as coisas boas da vida.
Outra vertente da questão, que muito me agrada, é juntar o prazer de viajar, com a “descoberta” de novos sítios onde a cerveja é tratada com a deferência que merece.
Resumindo, não enjeito o convívio na Cervejaria. Mas acho sempre que a melhor “Cervejaria” que há é a minha casa, porque é nela que encontro as melhores cervejas, e o sítio privilegiado para as partilhar com a parte mais importante da minha vida.

Etiquetas:

 
posted by Vic at 7/28/2008 03:03:00 da tarde | 2 comments
sábado, 19 de julho de 2008
Regressado de férias...
Nestes dias de Verão - que este ano tem estado longe, em termos de temperaturas, das antigas canículas (ah! Os últimos dias têm sido excepção) - apetece pouco a preguiçosa permanência frente à TV. Dá-me mais para um passeio à beira Tejo, e um pouco de leitura numa qualquer esplanada, à sombra, e de preferência, sossegada…mas sempre acompanhado pela fervilhante bebida.
Confesso a minha pouca simpatia por locais barulhentos, mas diga-se em abono da verdade, que Lisboa não é pródiga em sítios sossegados, onde se possa degustar uma boa cerveja. Já aqui referi a República da Cerveja, que peca muitas vezes por excesso de lotação e consequente ruído. Poderei acrescentar a Delidelux, de situação privilegiada, mas pouco acessível, dada, não só a grande afluência de clientes em relação à exiguidade do espaço, e os preços pouco convidativos. Mas sempre se pode beber uma boa Leffe Blonde ou uma excelente Gulden Draak, a acompanhar um dos meritórios carpaccios da carta.
Mas um dos meus sítios mais habituais é a Taberna do El Corte Inglês, mesmo que a envolvência seja repreensível: situada numa cave - sem “sightseeings“, portanto - também algo barulhento, e…acessível a fumadores. Mas gosto do atendimento, e a cerveja é agradável. Apesar da arte cervejeira de nuestros hermanos não ser muito superior à nossa, na Taberna serve-se a Estrela Damm ou a Bock Damm, as cervejas de Barcelona, uma lager e uma bock …normais, digamos, que serve perfeitamente de acompanhamento ao pratinho de batatas fritas - o ECI é dos poucos sítios onde ainda é “oferecido” um acompanhamento - ou uns pintxos de presunto de belota ou de queijo manchego.
É verdade que a Damm não é nada de excepcional, mas por qualquer razão inexplicável, proporciona-me sempre um prazer extra, nas visitas ao ECI.
A propósito, devo referir que, a nível de restauração (“ligeira”, que o ECI não é de grandes requintes), o nosso, o de Lisboa, é bem superior aos que conheço em terras de Cervantes. E repare-se que já conheço os de Madrid e Barcelona - deduzo que sejam os maiores - o que deve querer dizer alguma coisa

Etiquetas: , ,

 
posted by Vic at 7/19/2008 05:17:00 da tarde | 2 comments