Ruivas, Louras & Morenas

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
Segundo o rótulo (bonito), esta Old Foghorn é uma “Barley Wine style Ale“ (podem sempre carregar nas imagens para ver melhor). Que melhor ocasião poderia haver para pôr em prática o avisado conselho de um ilustre visitante deste cantinho, sugerindo que algumas menções pedagógicas seriam bem vindas?
Ora então, que diabo é uma “Barley Wine” (ou barleywine)? Traduzido à letra seria “vinho de cevada” o que elucidaria muito pouco. Na sua essência, significa que a cerveja debaixo desta denominação pode ser tão forte como o vinho…mas é cerveja, uma vez que é feita com base em grão e não em frutos. E efectivamente, o grau alcoólico deste tipo de cerveja andará quase sempre entre os 8 e os 12%, o que é significativo quanto ao seu vigor. A origem desta “strong ale” remonta à Inglaterra do século XIX (?), mas tem hoje muito seguidores no resto da Europa e nos Estados Unidos, onde lhe acrescentam á designação a palavra “style” para reforçar a ideia de que não se trata realmente de um vinho. Pela altura, a Inglaterra andava em guerra permanente com a França, e um patriota devia beber uma Ale e não vinho (francês). Assim, nasce a Barley Wine, que, na altura, era guardada em cascos por 18 ou mais meses (ainda hoje uma boa barley wine “aguenta” satisfatoriamente um período dilatado de envelhecimento).
Especificamente desta, um excelente exemplo da revigorada indústria norte-americana, por vezes tão pouco estimada por quem só dela conhece a fatídica Bud, poderei acrescentar que se trata de uma cerveja frutada, densa, licorosa, de forte personalidade, tal como a antecessora, a Thomas Hardy, embora um pouco menos odorosa. Aliás, o aspecto delas depois de vertidas no copo é muito semelhante, embora não sejam enquadradas no mesmo estilo (chegado aqui, devo referir que há quem considere a TH como uma barleywine, embora a própria O'Hanlon's não a refira como tal). Encorpada, é uma cerveja frutada e com laivos de malte, em sabores muito acentuados, e um pouco adocicada no “final de boca”.
Como qualquer Barley Wine, trata-se de uma cerveja propícia a comemorações, ou, mais simplesmente, a uma boa sobremesa. Uma excelente sobremesa, diria eu.


Cervejeira: Anchor Brewing Company, California, USA
Vol/Alc: 10% Abv
Ano: 2007
Tipo: American Barley Wine


Anchor Old Foghorn Barley Wine - **********




Etiquetas:

 
posted by Vic at 1/31/2008 02:00:00 da tarde | 6 comments
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
Sou dos que gosto moderadamente de libertar a adrenalina. A prudência obriga-me a, por exemplo, não entrar numa montanha russa, embora não desdenhasse sentir por uma vez aquele turbilhão que toma conta de quem se atreve à experiência. Mas enfim, cada um é como é, e aquela sensação, é das tais que nunca experimentarei, porque a idade aconselha-me a evitar emoções fortes. Pelo menos aquelas que possam acarretar consequências físicas.
Bom, mas aventuro-me noutras, e a prova desta Thomas Hardy Ale revelou-se uma experiência de grande impacto. E quem a elaborou na britânica O’Hanlon’s sabia das virtudes da magana, pelo que, prudentemente, a encerrou em garrafinhas de 25cl, evitando assim que a gula mate a conveniente contenção do apreciador. Sim, que estando nós face a uns 11,7º de graduação alcoólica (que depois da degustação parece ter sido avaliada por defeito), beber mais que aquela quantidade, sendo tentador, poder-se-ia revelar fatal
A cerveja? O aspecto está patente na foto: nada de espuma, carbonatação inexistente e uma cor a roçar a de um bom vinho do Porto. A descrição da bebida em si, já se torna mais problemática, tal a complexidade da “pequena”.
Mas porque não deixar falar o Thomas Hardy, himself?
It was the most beautiful colour that the eye of na artist in beer could desire: full in body, yet brisk as a volcano; piquant, yet without a twang; luminous as na autumn sunset” (escrito no “The Trumpet Major” e transcrito no próprio rótulo da garrafa).
Mais palavras para além das do escritor são supérfluas.
De qualquer forma, não gostaria deixar de exteriorizar a minha satisfação e dizer que se trata de uma cerveja extraordinariamente rica de aromas e sabores. Uma experiência a roçar o divino.
Uma nota final para referir, que a cerveja fabricada em quantidade muito limitada, é numerada, conforme se verifica pela foto, o que dá uma certa aura de exclusividade à coisa.


Cervejaria: O’Hanlon’s Brewing Co. Ltd. - Whimple, Devon, UK
Vol/Alc: 11,7
Ano: 2007
Nº:: 1897
Tipo: Ale de dupla fermentação (na garrafa)


Thomas Hardy’s Ale - **********



Etiquetas:

 
posted by Vic at 1/29/2008 11:37:00 da tarde | 0 comments
domingo, 27 de janeiro de 2008
Se há coisa que hoje é importante na promoção de qualquer produto, essa é a aparência. Claro que se depois o produto não corresponder à embalagem, o consumidor pensará que terá sido vítima de embuste, e lá se vão as vendas. Do que já ninguém duvida pois, é que a boa apresentação é imprescindível, e que a concorrência não se compadece com um aspecto menos cuidado.
Ora esta Moeder Overste (Madre Superiora) é um caso de sucesso, nessa vertente. Rótulo bonito, carica a condizer, os amarelos a jogarem bem com os negros, e uma cerveja tripel a manifestar-se alegremente no copo.
Uma nota que se impõe, e que já devia ter deixado há uns tempos, em atenção para com os menos familiarizados com estes pormenores cervejeiros: as tripel, são cervejas que passam por tripla fermentação, na maior parte das vezes na própria garrafa, e, nalguns casos, em cascos de carvalho. Para ir um pouco mais longe: as cervejas dividem-se em duas grandes famílias conforme a sua fermentação: as lagers, de baixa fermentação, e as ales (família onde se integra esta Madre), de alta fermentação, embora haja depois alguns tipos de cerveja mais específicos, e que por isso, se estabelecem como grupos á parte.
Bom, mas isso são especificidades que facilmente se encontram em dezenas de sites dedicados ao tema, pelo quue não me alongarei.
Voltando à vaca fria, ou melhor, à Madre Superiora, direi que se trata de uma loura arruivada que ostenta um colarinho branco generoso e persistente, tão comum neste tipo de cervejas, e que o líquido alaranjado e límpido deixa escapar aromas mistos de maltes e frutas tropicais. O sabor é condizente, fundos de maltes excelentemente mesclados com frutos e canela. Um sabor muito característico, diria.
A Madre Superiora tem um beber fácil, que nem os seus 8ºAbv dificultam. É uma cerveja agradável e refrescante, e toda ela uma festa para os sentidos.

Moeder Overste: - **********





Etiquetas:

 
posted by Vic at 1/27/2008 10:52:00 da manhã | 2 comments
quinta-feira, 24 de janeiro de 2008
Li uma vez de alguém que também sentia uma seduução irrecusável pela nobre bebida que: "Bebo com os olhos, o olfacto e o paladar". Resumia numa simples frase, aquilo que nos é comum. Com efeito, se o sabor de uma cerveja é transcendente no meu gosto por ela, nunca me consigo furtar aos seus encantos visíveis, ou ao aroma que deixa escapar.
Uma das características a que olho é á sua espuma, mais a sua cor e densidade, do que a quantidade. Isto apesar de algumas das minhas preferidas nem "fazerem" grande espuma, mas essas são tão boas que tudo se lhes perdoa, mesmo a quase ausência de espuma.
Ora a esta moreníssima cerveja da belga Martin, nada se lhe pode apontar: boa "gola" a provocar enorme gula, corpo esbelto, aroma a cafés e chocolates, tudo numa mistura explosiva que atinge os 12º Abv, imperceptíveis no meio de um cocktail irrepreensível de paladares. Aliás, esta cervejeira, sendo uma das mais diversificadas em produtos, característica de que sempre desconfiei (são os malfadados preconceitos...), tem-me surpreendido pela positiva.
Tenho que dizer que uma das coisas que me dá mais prazer é ver a reacção de quem convido para minha casa para comigo partilhar estes pequenos prazeres, e a esta, os sorrisos largos deram-me bem a medida da satisfação que provocou. E as palavras de apreço foram mais que muitas.
Abreviando, direi dela que se a espuma cor de chocolate é cremosa, o líquido é licoroso, espesso - quem conhece a "Ginja de Alcobaça" sabe do que falo - e onde os sabores a maltes torrados, a chocolates e a esmero na feitura.
Na boca, deixa notas acentuadas, mas principalmente lamento por se ter acabado.
Uma cerveja de grande nível


Gordon Platinium: - **********




Etiquetas:

 
posted by Vic at 1/24/2008 10:25:00 da tarde | 0 comments
terça-feira, 22 de janeiro de 2008



25 de Maio de 2008 marcará o início de uma nova era no modo de encarar a cerveja em Portugal. Espero.
Para mais informações é só visitar:

  • Cervejas do Mundo
  •  
    posted by Vic at 1/22/2008 03:30:00 da tarde | 0 comments
    sábado, 19 de janeiro de 2008
    Faço hoje a reaparição neste espaço, após uma breve lacuna originada pela preguiça que estes dias outonais absolutamente deslocados no tempo me fazem sempre sentir, e desde já o meu acto de contrição, que os meus visitantes mereciam mais.
    Para as minhas experiências no campo cervejeiro é que não há preguiça que resista, e, portanto, têm continuado.
    Mas deixem-me dizer primeiro que a minha aventura poderia ter horizontes mais alargados se, como fazem alguns dos meus companheiros no fórum das Cervejas do Mundo, me dedicasse à elaboração de cerveja própria. Contudo, em relação a esta questão, sinto-me bastante dividido: se por um lado gostava de um dia me aventurar por esses caminhos, por outro, acho que não conseguiria suportar o suspense sobre o que sairia dali, durante os dias de espera. Penso que para eles deve ser quase como esperar um filho - perdoe-se o exagero - só que um pouco mais complicado, porque no caso do filho, com a tecnologia moderna, ao fim de certo tempo já se sabe se é menino ou menina, mas no caso da cerveja, acho que os meus amigos cervejeiros estão sempre na dúvida sobre o resultado final, pelo menos nas primeiras experiências.
    Devo acrescentar que, pelo que conta quem tem provado - e são “degustadores” de total confiança - as experiências têm resultado em produtos de alta qualidade, o que me faz ainda mais lamentar a impossibilidade - temporal, espero - de me deixar tentar pela aventura da “cerveja caseira”.
    Mas como não vale a pena chorar sobre o leite derramado, resta-me esta vertente, que é a de ir conhecendo sempre novas (para mim, obviamente) cervejas, e devo dizer que é coisa que me dá muito prazer.
    Um dos tipos de cerveja que mais me agrada é a “Dunkel”, já o disse aqui, e esta da foto, é uma delas. E embora não a inclua na elite das minhas mais que tudo, é uma cerveja muito agradável, com um acentuado sabor a chocolate como é habitual neste tipo de cerveja, mas bem balançado, com um teor amargo vincado no ponto, demonstrativo de equilíbrio. Como é hábito, o teor alcoólico não é elevado - andará pelos 5º Abv - o ideal para estas cervejas de meio litro.
    Foi bebida bem fresca, e soube bem. Portanto, mais uma boa hipótese de companhia para uma tarde de Verão. Ou de Outono, como foi o caso.
    Weltenburger Kloster Dunkel - **********



    Etiquetas:

     
    posted by Vic at 1/19/2008 04:54:00 da tarde | 2 comments
    quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
    Cada um de nós tem uma estação do ano preferido, e creio que preferência terá muito a haver com o nosso feitio, ou até com a época da vida que se atravessa. Parece-me que, com o correr da idade nos vamos tornando mais sensíveis àquelas cores quentes das folhas no Outono, e deixamos para trás os nossos entusiasmos estivais, ou as frescuras primaveris.
    Foi reflectindo nestas frivolidades da minha vida comezinha que há dias me sentei numa esplanada, aproveitando os tímidos sorrisos que o sol ainda nos vai oferecendo, e sem mais que fazer, pedi um café - coisa que faço pouco fora de casa - e entretinha-me a perder o olhar na multidão, quando me vem ao ouvido descuidadamente a conversa de dois jovens se tinham sentado na mesa ao lado. Um deles pediu uma cerveja, e o outro perguntava-lhe como é que ele conseguia beber cerveja no Inverno. Claro que aquilo tinha tudo que ver com o tipo de cervejas que há à disposição por cá, mas sobretudo com a temperatura a que a cerveja costuma ser servida. Mas veio-me à mente uma conversa que há poucos dias tinha tido com a minha filha, ela que também gosta razoavelmente de cerveja, em que ela me dizia que com este tempo lhe apetecia menos a bebida.
    Pois a mim, nem mesmo o tempo de brumas me afrouxa o gosto pela cerveja, e nem sequer opto sempre por cervejas mais “quentes”, por assim dizer, como as cervejas de natal ou de abadia, apesar de delas gostar muito. Não faço questão, e acabo por beber a que mais me apetece na altura, ou se se proporciona de experimentar uma novidade, ainda melhor. Mesmo que seja uma “blanche” que sabe divinamente se servida muito fresca.
    Foi o que se passou com esta excelente Timmerman lambic Blanche. Já me andava a “picar” há uns tempos, até porque destas witte, por cá, a Hoeggarden é quase monopolista, e queria estabelecer uma comparação.
    E a cerveja não se saiu nada mal na comparação. Servida fresca em copo próprio - por sinal muito parecido com o da Hoeggarden - mal poisou no copo, atirou-me com um suave aroma a citrinos e a fruta madura. Menos efervescente do que seria de esperar, apesar de tudo, o suficiente para refrescar perfeitamente o sequioso bebedor, mesmo que tenha acabado de atravessar o Sahara.
    Muito suave, descomplexada e leve, é sem dúvida uma boa companhia para uma tarde despreocupada, e a acompanhar com uns pedaços de queijo da Serra, como foi o caso, ou qualquer outro que não tenha um sabor demasiado marcado.
    Por mim, fiquei satisfeito por me ter travado de razões com esta “belga”, que não se mostrou em nada inferior à sua compatriota mais conhecida.


    Timmermans Lambic Blanche - **********


    Etiquetas:

     
    posted by Vic at 1/09/2008 03:19:00 da tarde | 2 comments
    terça-feira, 1 de janeiro de 2008
    Este ano, o mercado esteve particularmente generoso no que diz respeito a “cerveja de Natal”, uma vez que a Gordon patrocinava este ano o “Natal Cervejeiro”, pelo que se encontrava em quase todas as grandes superfícies a Gordon Xxmas.
    A Binchoise Noel também foi importada para um desses espaços, e eu ainda arranjei uma Belenos, cerveja do reino das Astúrias, e comprei duas DeuS para compor o ramalhete
    Não se pode dizer que fosse assim tanto, mas foi certamente mais do que é costume no nosso mercado, até porque o ECI cada vez tem uma oferta mais alargada na secção cervejeira. Pena que, no que se refere a cervejas de Natal, ainda sejam muito restritas as importações.
    A Gordon Xxmas, quem não conhecia, por certo ficou agora a conhecer, pois não acredito que com a oferta que havia, os “amantes” cervejeiros não tivessem aproveitado a oportunidade. É uma excelente cerveja, escura e encorpada, muito própria para esta altura do ano, uma vez que não requer frigorífico. E depois, com aquela bela apresentação, torna-se a “oferta ideal”.

    *****


    Da Binchoise, pode-se dizer quase o mesmo que da Gordon, embora a apresentação seja menos espectacular.Já a Belenos é outra conversa. Há um ditado popular que reza: “Quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão”. Os asturianos têm grandes produtos gastronómicos, como a “fabada asturiana” ou a sidra, mas definitivamente, ou não nasceram para mestres cervejeiros, ou vão ter ainda muito que pedalar para o ser. A Belenos é simplesmente detestável: muito doce, mais parece um vinho fraquinho, uma espécie de água pé alicorada. Para ser sincero, não consegui atinar com que espécie de bebida era aquela com que me debatia. Por pouco tempo, que a desistência foi rápida. E não me parece que haja 2ª oportunidade.

    *****


    Da “DeuS, brut de Flandres”…pois que dizer da DeuS? É verdade que não se trata de uma “cerveja de Natal”, não tem as características próprias deste tipo de cerveja, mas é fora de dúvidas, uma cerveja muito direccionada a todos os tipos de celebração. Como é o caso.Elogiada de forma exuberante por quem a bebeu, confirmou aquilo que esperamos dela: é um super produto, de qualidade extra e que é um “prazer dos diabos” estar com ela, e que nem o preço faz recuar os que apreciam produtos de grande qualidade. Um must. E que nos deixa sempre ansioso pela próxima vez.


    *****


    Resumindo: foi um Natal na companhia de boas cervejas, que uma andorinha (Belenos) não faz a primavera. Verifica-se, na verdade, que o leque de escolhas de cervejas no nosso mercado se vai alargando cada vez mais - provavelmente, graças a uma grande superfície que nem sequer é portuguesa (longe vai o tempo em que se dizia que "de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento")- e a esperança é que o novo ano nos traga ainda mais novidades, e já agora, que, na altura própria, a oferta de cervejas de Natal se alargue.



    Etiquetas: , , ,

     
    posted by Vic at 1/01/2008 12:18:00 da tarde | 8 comments