Ruivas, Louras & Morenas

domingo, 21 de setembro de 2008
Reparei agora que estou a chegar às 50 apreciações escritas a cervejas belgas, o que demonstra de certo modo, o meu apreço pelas cervejas daquele país. No entanto, devo referir que se não me refiro mais a cervejas de outros países é porque as não encontro neste nosso canto quase esquecido da Europa (outras são tão más que nem me parecem dignas de menção, e nesse grupo até incluo algumas belgas...). Mesmo muitas sobre as quais aqui me pronuncio são adquiridas em viagens por países, e maioritariamente em pequenas surtidas a terras dos nuestros hermanos, esses sim, uns privilegiados em termos cervejeiros.
Mas vamos ao que importa, que o muro das lamentações é muito longe, e hoje é domingo, dia pouco dado a tristezas, e tentemos um sprint para atingir a tal meia centena de belgas provadas.
Hoje refiro mais uma das minhas preferidas, a Maredsous 8, produto da Duvel Moortgart, e parte de uma tríade de grande qualidade: há a Maredsous 10 - de que já aqui dei notas, e que foi durante uns tempos a minha preferida do trio, quiçá pela sua pujança - a hoje mencionada 8, e a 6, única do trio que nunca tive oportunidade de apreciar.
Pois esta Maredsous 8 é um caso sério. Aliás, nem outra coisa seria de esperar de um produto saído daquela cervejeira belga, que prima pela excelência dos seus produtos, a começar pela sua principal “bandeira”, a extraordinária Duvel.
E é um caso sério, porque sendo tão complexa e rica de aromas, mas principalmente de sabores, se torna difícil de descrever, embora a primeira frase que me suscite ao bebê-la seja: “Que maravilha”.
Farta de espuma, cremosa e perene, que vai ficando em argolas pelo copo á medida que se vai esgotando, o corpo é escuro como se impõe numa dubbel. Os aromas vão dos maltados aos chocolates escuros, passando pelos frutados. De elevada densidade, a bebida, quase oleosa, revela na degustação uma mescla de caramelo e fruta, e um fim de boca a lembrar um bom vinho do Porto - o tal licoroso presente - a persistir durante vastos minutos, deixando-nos aquela sensação de saudade recente que nos faz pensar: “Que pena! Já se acabou!”.
Mas outros dias virão, e a Maredsous 8 é uma das minhas companhias mais habituais, embora nos últimos tempos, e para muita pena minha, tem andado arredia dos escaparates dos sítios onde a costumava comprar.
Oxalá seja ausência passageira, porque, incauto, não constituí reserva adequada, e agora tenho-lhe sentido a falta.
Maredsous8 - **********



Cervejeira: Duvel Moortgart NV, Bélgica
Vol/Alc: 8% Abv
Ano: 2006
Tipo: Dubbel
Copo: Goblet


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posted by Vic at 9/21/2008 11:18:00 da manhã | 6 comments
domingo, 7 de setembro de 2008
Mais um lapso de tempo sem presença aqui, mas desta vez com motivos justificados - particulares e indivulgáveis - mas que deu tempo para algumas reflexões, e uma rápida ida à nossa vizinha Espanha - Vigo, mais precisamente - onde aproveitei para me abastecer no Alcampo e no El Corte Inglês com algumas cervejas que por cá não aparecem, como a Schneider Weiss, a Aventinus e umas poucas mais. E onde também “descobri” um pequeno bar muito agradável, “Le Vieux Paris”, com pessoal atento e simpático, e uma carta de cervejas curta mas com alguns bons exemplares. Optámos por uma Witt, a Brug, e acabámos numa Chimay Bleu. Acompanhadas por uma dose de Manchego e outra de um excelente presunto recebo ibérico. Fim de tarde muito agradável, portanto.
Entretanto, e analisando o post anterior - e respectivas respostas - verifiquei que, tendo mencionado em titulo as Session e as Session Beers, a nada a seu respeito tinha aludido no texto.
Bom, mas a coisa é fácil remediar, embora com algum atraso sobre a proposta do nosso amigo Max. Muito já foi referido pelos nossos companheiros desta comunidade cervejeira, pelo que estar agora a definir o que é uma Session Beer, seria como chover no molhado.
Mesmo o menos familiarizado, deduzirá que a boa Session Beer (a Session pode ser considerada com Confraternização) é aquela cerveja que se pode consumir com alguma “liberdade”, sem o perigo de pôr em causa a sanidade do amador cervejeiro, pelo que uma cerveja tipo Bush Ambrée com os seus 12% de Abv, estaria definitivamente fora do espectro de candidatas.
No entanto, e como referi, não me vou pronunciar sobre elas. Por uma razão muito simples: não sou um Session Man. Quando muito, podê-lo-ei ser em minha casa, onde - disse-o uma vez - tenho à mão as cervejas que gosto, e que bebo na medida que me agrada. Sempre acompanhado, naturalmente, que a partilha é imprescindível. Para ser sincero, além de ser um individualista, não me agradam as Session portuguesas, que são normalmente feitas com muita cerveja de pouca qualidade. Pois é, por cá não importa a qualidade, é preciso é que seja muito. Uma vez disse que nunca me veriam encostado a um balcão de cervejaria a beber da garrafa, ou “imperial” até cair. A vontade mantém-se.
De entre as respostas ao post anterior, o nosso amigo Chela interroga-me com alguma graça sobre a (não) inclusão de cervejas portuguesas na minha “cata”. Infelizmente, não partilho a sua boa vontade em relação às cervejas nacionais, e exceptuando a Sagres Bohemia, que considero uma cerveja bebível, ou as que se bebem na República da Cerveja - que por não serem vendidas engarrafadas não poderão ser consideradas numa proposta deste género - não preenchem os requisitos mínimos nas minhas apreciações.
Do que se trataria aqui, seria converter novos adeptos para a nossa causa, e não afastá-los, que seria o que aconteceria se lhes propusesse uma das nossas inefáveis lagers ou mesmo, tenho a certeza, uma das “extraordinárias” e pretensiosas gourmet há uuns meses lançadas. Em má hora, diria. Já para não falar numa daquelas com sabor a pêssego ou limão, ou qualquer coisa assim (aqui deixo uma nota para os menos avisados: o facto de se acrescentar sabor de fruta a uma cerveja não faz dela uma Lambic. Uma lambic de Framboise ou uma Kriek são outra coisa. São cervejas sérias e não caricaturas)
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Para terminar, uma nota que dá bem conta do nível de alguns dos nossos empresários, ou, pelo menos, das pessoas que tratam da exploração dos espaços gourmet, que agora proliferam por Lisboa.
Já referi que a Delidelux se excede um pouco nos preços, nomeadamente no que diz respeito ás cervejas. Paga-se o preço da exclusividade do lugar mais o da cerveja propriamente dita. Mas a total falta de senso chegou agora com a inauguração da Loja Gourmet do Pão de Açúcar das Amoreiras, há uns 2 ou 3 meses atrás. Ao princípio as cervejas não constavam do “cardápio”, mas eis que elas surgem há umas semanas atrás, com muita alegria minha, que logo se desvaneceu ao verificar os preços, absolutamente escandalosos. Assim, qualquer das cervejas de 33cl expostas - ex, Westmalle, Floreffe, Triple Karmeliet e mais umas 2 ou 3 - eram propostas a mais de 5€ - quase 6- a unidade, quando podem ser compradas normalmente a preços a rondar os 2€. Mesmo em supermercados do mesmo grupo. Mas o caso mais espantoso sucedeu com a DeuS. Na altura em que as lá vi pela primeira vez, ostentavam o preço de 20 € e mais uns cêntimos, o mesmo que no Club do Gourmet do ECI - essa sim uma loja gourmet a sério e…séria - e considerei que pelo menos o preço desta, era razoável.
Bom, os homens devem ter ouvido o meu pensamento. Passada uma semana, passo novamente pelo local na esperança de que tivessem reconsiderado nos preços das cervejas e verifico que sim. Reconsideraram no caso da Deus: passaram o preço para 42 Euros!
Será que estes tipos pensam que somos todos uma cambada de parolos?
Será que não há um limite razoável para a margem de lucro que estas lojas praticam?
Ou será que o que já não existe é vergonha?
 
posted by Vic at 9/07/2008 12:18:00 da tarde | 8 comments