Parecia que as descaradas me piscavam o olho cada vez que passava por elas. Elegantes nos seus rótulos azuis onde refulgia o distintivo emblema das cervejas trapistas, há uns tempos que me tentavam. Juro que por vezes, sonhei que me assobiavam.
Naquela tarde decidi-me: é hoje que se acabam as provocações. Sabia que aquilo era demasiado só para mim: 75 cl cada garrafa vezes duas, dava litro e meio de cerveja cheia de têmpera, que me ia deixar de rastos, se não pior. Aqui chegado, havia que arranjar alternativa, e para tanto bastou-me um telefonema.
A resposta do outro lado veio rápida:
- É para já?
- Mais duas horas, tenho que arranjar acompanhamento.
Meti as garrafinhas no frigorífico - hora e meia e ganhariam a temperatura ideal - e saí para comprar algo digno da bebida. Cheguei ao destino indeciso, mas à vista de um presunto 5J Sanchez Romero, perdi as dúvidas. Pedi que me cortassem umas fatias à mão (podem acreditar os que nunca experimentaram, que não tem nada a ver com o presunto embalado, nem mesmo com o cortado na máquina, que acaba por “queimar” a carne) e arranjei um queijo da Idanha para acompanhar. Ainda pensei num picante de Castelo Branco, mas ponderei que o sabor seria demasiado intenso, e o mais provável é que ocultasse completamente o sabor da cerveja. Uns pacotes de pão de alho não demasiado condimentados, finalizaram o “pacote”.
A abertura da primeira das duas foi quase um cerimonial, executado com os cuidados que uma obra daquele quilate exige. A rolha saltou, e com ela uma espuma cor de caramelo e densa, a cobrirem um líquido escuro e robusto. Espalhou um aroma de frutos e especiarias, ao qual correspondia um sabor idêntico, que percorria lentamente as paredes da boca. E se deixou ficar, preguiçoso, como se quisesse que nunca mais o esquecêssemos. O que, naturalmente, conseguiu. A segunda, foi aberta ainda com mais cuidados, pois que foi grande o respeito que a primeira impusera. Sim, que aqueles 9º indicados no rótulo, não enganam.
A Chimay Grande Reserve é uma senhora cerveja. E às senhoras, há que tratá-las com respeito.
…
Ao que parece, sobraram umas fatias de pão de alho…
Etiquetas: Chimay Grande Reserve
At 16 de maio de 2007 às 17:32, mitos
parabens sobre este blog sobre uma das melhores c oisas da vida
bonito e interessante, como tudo devia ser ;-)
esta grand reserve (e eu atirei-me a uma 1,5L q la tinha) é das melhores coisas que alguem alguma vez pôs no mundo. uma experiência memorável
espero q nos vejamos em breve num dos enventos das CdM
abraços
mitos