Ruivas, Louras & Morenas

terça-feira, 7 de outubro de 2008
Muito atrasado, mas mesmo assim não queria deixar de concorrer com a minha opinião para o tema lançado por Mario Manzano (Manzapivo), da Cerveceria de Neo Manza, blog escrito desde a Colômbia, e que põe a pertinente questão de: Cómo construir, consolidar e manter uma verdadeira cultura cervejeira?
A resposta, em princípio, é muito difícil. Há muitos pontos a ter em consideração, todos eles prioritários, mas parece-me que o principal será sempre levar a sério a cerveja. Ora isso, num país ancestralmente vinícola, é extremamente complicado. Em países como Portugal, que é o meu, e naturalmente o que conheço melhor, o lobby vinícola é poderoso, e a cerveja é vista como bebida de 2ª ou 3ª classe, ao nível dos sumos e das colas, e o seu fim será, quase sempre, o de matar a sede. Convidem uma dúzia de portugueses típicos para um almoço, e, provavelmente, só um deles optará por uma cerveja para acompanhar o repasto.
Em Portugal, a cerveja é bebida das seguintes maneiras: em festas de província, sob a forma de mini (20 cl) ou “imperial (a caña), em festivais rock por adolescentes, em ambos os casos com o único fim de beber o máximo possível, não importando a qualidade. Depois, há uma franja de população urbana que periodicamente se desloca a uma das grandes cervejarias - Portugália, Trindade, Lusitãnia ou República da Cerveja - para comer o tradicional “Bife à café” ou umas doses de bom marisco, acompanhados por uma - ou mais - das cervejas postas à disposição. Na maior parte dos casos, também aqui sem grande investimento na questão da qualidade. Ou é Super Bock ou é Sagres. Ou vice-versa.
Restam, os indefectíveis da cerveja, como eu, que procuram qualidade, mais que quantidade, e que procuram dar alguma visibilidade à magnífica bebida, nem que seja só entre o seu reduzido núcleo de amigos., além, claro, de meia dúzia de “carolas” que se vão “atrevendo” na arte da cerveja artesanal, para gáudio dos que lhes estão próximos e que são os privilegiados, uma vez que são eles os destinatários das maravilhas que saem das mãos desses entusiastas cervejeiros.
E aí estará, talvez, a melhor forma de ir construindo a cultura cervejeira, criando uma espécie de células, e fazendo com que elas se expandam e se multipliquem.
Porque das macro cervejeiras estamos falados: da parte deles não há motivo para educar o gosto do consumidor. Pelo contrário, a filosofia vigente é precisamente a contrária: “Se a Bud vende em todo o mundo, porque não investir em algo parecido?”. Ou: “Se o povo gosta de lager aguada, para quê perder tempo em invenções?”
Bom, o discurso pode parecer amargo, mas a realidade é esta: implantar uma cultura cervejeira séria é difícil. Repetem-se fórmulas, na maior parte dos casos, não as melhores, mas aquelas que oferecem mais garantias de rentabilidade.
De resto, parece-me boa a análise que o nosso amigo Chela faz do panorama cervejeiro português, embora me pareça, que dele transpira um optimismo mitigado, que de forma alguma partilho.

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posted by Vic at 10/07/2008 04:02:00 da tarde |


4 Comments:


At 7 de outubro de 2008 às 22:28, Blogger JC

Meu caro V. de Almeida:

Embora, como sabe, eu seja um ignorante em cervejas (eu é mais vinho...) se como um bife com batatas fritas, mormente numa cervejaria como as que refere, não abdico de uma cerveja um pouco mais séria (das disponíveis, claro está), do tipo Abadia ou uma outra dessas Gold que agora existem. Nesses casos, não conheço nemhum vinho que as substitua com vantagem. O mesmo não poderei dizer em relação ao marisco (não sou um grande apreciador), onde um branco jovem e frutado substitui (acho) a cerveja com vantagem. Sei que é pouco, mas como disse "eu é mais vinho".
Abraço e parabéns pelo blog, que se tornou, para mim, já uma companhia habitual.

 

At 9 de outubro de 2008 às 19:29, Blogger C

Olá! Estou escrevendo para comunicar estas oficialmente convidado LaRonda # 5, desta vez para me pagar. A partir de amanhã, sexta-feira décimo 10, às 9 horas (hora espanhola) passará a ter no universo de cerveja em mais uma rodada de dar a sua opinião. Estou esperando.

 

At 12 de outubro de 2008 às 12:06, Blogger Vic

Meu caro JC

É um prazer verificar que, ao menos, vou despertando o interesse de alguns não-cervejeiros :-).
Agora um conselho:
Se se deslocar à República da Cerveja escolha sempre uma das cervejas sazonais, especialmente a de Natal - que vai estar disponível de princípios de Novembro até ao fim de Dezembro - a de Malte de Whisky - a pattir de Janeiro, e sensivelmente durante dois meses - ou uma que está sempre disponível, a Puro Malte.
Se o destino for a Lusitânia, sugiro a Cruz de Malte. Quanto á Portugália, onde há muito não vou, sugiro sempre a Bohemia - à pressão ou em garrafa - que é das especiais, de longe a melhor. Da Unicer, a Abadia ou qualquer das chamadas Gourmet, desaconselho vivamente.
Entretanto, se puder, tente-se com algumas que estão nos escaparates do El Corte Ingles: Chimay, Westmalle, Triple Karmeliet, Orval, só a título de exemplo, e experimente um lanche, com as cervejas a acompanhar, por exemplo, um bom queijo...
Sobre o branco frutado a acompanhar um bom marisco, experimente um dia uma DeuS (também à venda no Club Gourmet do ECI). Depois falamos..

Um abrçao

 

At 12 de outubro de 2008 às 12:08, Blogger Vic

Caro Carls

Corresponderei com gosto á tua proposta. Amanhã estará publicada

saudações cervejeiras