Numa muito recente deslocação, pude verificar a verdadeira paixão que os holandeses nutrem pela bebida, muito semelhante à dos belgas, e da sua simpatia e disponibilidade para esclarecer as dúvidas do espantado viajante.
Iniciei a peregrinação pelo bar Golem, mesmo por trás da Damm. Antes de continuar, duas notas que ajudarão a compreender porque as minhas “aventuras” foram de certo modo condicionadas: a primeira, é que não bebo fora das refeições, abrindo raríssimas excepções. A segunda, é que o meu bem estar aconselha-me a evitar sítios frequentados por fumadores.
Ora o Golem, que não foge á regra dos restantes bares de Amsterdam, tem uma atmosfera saturadíssima, até porque se encontrava quase superlotado, e o recinto é escassíssimo. Penso mesmo que para os holandeses é impensável beber uma cerveja sem um cigarro a acompanhar. E de acompanhamentos para cerveja…nada. Pelo que tive abrir mesmo duas excepções aos meus hábitos, mas a perspectiva era irrecusável: o Golem, na sua extensa carta exposta em ardósias nas paredes e bem legíveis, exibia a Westvleteren 12, o maior mito cervejeiro da actualidade.
Quase incrédulo, perguntei ao barman, excepcionalmente simpático e interessado no esclarecimento de dúvidas, se tinha mesmo a West, ao quue ele respondeu de imediato: “Of course. Is on the board”. Pedi uma, e para a minha companheira, que é uma apreciadora de lambics, uma Liefmans Frambozen, a tal cerveja que corre risco de desaparecer, face á recente falência da cervejeira,
Claro que a West foi servida à temperatura ambiente, e a Liefmans, quase.
Mas deixem-me falar da West: só assistir à decantação é quase uma orgia: no copo original, uma espuma cremosa, de dois dedos, que não dura muito, e um corpo escuríssimo, profundo, com reflexos rubi.
Depois, a degustação que se revelou uma experiência do outro mundo: muito aromática, grande complexidade, com laivos de passas de uva, ervas aromáticas, caramelo. O sabor é consequentemente, também ele muito complexo, embora a certa altura nos pareça estarmos mais perante um licor que de uma cerveja, não fora a ligeira carbonatação. Suavíssima, uma agradável viscosidade que toma conta do palato, por onde espalha sabores a frutas doces, a citrinos e a mel. O alcool é perceptível, mas não se sobrepõe a tudo o resto, pelo contrário. Podem crer, o aquecimento do organismo é instantâneo.
Uma cerveja perfeita.
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