Ruivas, Louras & Morenas

sábado, 1 de março de 2008
Por muito que se viva, nunca se esquece o calor do colo materno. Mas há mais coisas perduráveis na nossa vida. Há os amores e os sabores que nos acompanham sempre. Quanto a estes últimos, muitas vezes me lembro do arroz de tomate que era feito quando ainda o sabor do vermelhíssimo fruto não era abafado pelos omnipresentes sulfatos que tanto prazer da mesa nos retiram, ou as pataniscas de bacalhau que imperavam nos balcões das tascas, agora desgraçadamente substituídas por intragáveis antros de fast-food.
Mas há também os aromas. Como o do fumeiro da minha avó, tão intenso quando, na velha casa virada à serra e em dias frígidos de Janeiro, se decidia do destino dos porcos que eram alimentados com tanto desvelo durante todo o ano, mas sempre com o fatal destino marcado. Era um prazer - não muito saudável, sei-o hoje - abrir os pulmões àqueles cheiros, e olhar para cima, para as varas com as enfiadas de chouriços, morcelas, mouros e farinheiras, com vontade de acelerar o correr dos dias para mais depressa nos podermos deliciar com aqueles simples e ao mesmo tempo, ricos manjares.
Mas ao que vem a lenga-lenga? È que esta Aecht Schelenkerla Rauchbier é uma cerveja fumada (rauch=fumada) , e mal a abri…lá estavam os aromas do fumeiro da minha avó e foi para esse ambiente que me senti transportado.
É, fora de dúvidas, das cervejas com aroma mais intenso que já senti. E o sabor então, faz-me lembrar o anuncio da Duracel, “dura, dura, dura…”. Vertida no copo, tem o aspecto semelhante ao das “dunkel” - o que até nem se estranha muito, afinal são dois sub tipos de lager - muito escura, de espuma leve mas muito significativa e perdurável, embora perca o volume rapidamente. Se dos aromas e sabores - que evocam sem remissão um bom queijo ou um belo presunto pata negra para acompanhar - já falei, poderei acrescentar que a gaseificação, bem calibrada, ajuda à digestão de uma cerveja que, para alguns, pode parecer demasiado condimentada, para mais vindo aconchegada em garrafa de meio litro.
Resumindo, esta especialíssima cerveja que, conforme o rótulo se denomina de Aecht Schelenterla Rauchbier Urbock, é uma bebida vigorosa, diria que, para homens de barba rija, não fosse a frase nos tempos que correm politicamente incorrecta. Complementando a informação, o cuidado na apresentação deste produto da cervejeira Heller-Trum de Bamberg, é evidente, e, segundo consta, feita de acordo com a famigerada lei da pureza, que, já confessei, não me diz absolutamente nada, e quanto ao grau alcoólico - que nem se nota - atinge os 6,6%.
Uma nota final para acrescentar que teria sido aconselhável servi-la fresca e numa caneca. A temperatura foi respeitada, mas quanto às canecas, e para mal dos meus pecados, é coisa que não consta do louceiro.
Aecht Schelenkerla Rauchbier Urbock - **********

Cervejeira: Brauerei Heller-Trum
Vol/Alc: 6,60% Abv
Ano: 2007
Tipo: Rauchbier Urbock
Copo: Caneca


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posted by Vic at 3/01/2008 06:27:00 da tarde |


2 Comments:


At 3 de março de 2008 às 02:10, Blogger Paulo Feijão

Olá Caro Almeida,

Para lhe ser sincero quando a Schlenkerla Märzen, com seus 5,1% de alcool, desembarcou em solo brasileiro, corri feito louco atrás, pois tive uma experiência muito prazerosa com a Rauchbier produzida pela Eisenbahn aqui, mas como sabia da referência que a Schlenkerla é, queria experimenta-la a qualquer custo, muitos dos conhecidos cervejeiros acharam ela demasiadamente defumada, forte, entretanto eu não, acho ela uma espécie rara de cerveja, com características fortes, demonstra para que veio, faz parte do hall das melhores cervejas que degustei, agora inclusive acabei de degustar uma, conscidência não?
Abraços

 

At 7 de março de 2008 às 12:03, Blogger Vic

Amigo Feijão

É também a minha opinião acerca desta Urbock. Apesar do heavy smoke, adorei esta cerveja, e veja que supera a Marzen em grau alcoólico, o que implica que a cerveja seja mais incorpada.
Também passou a ser uma das minhas favoritas
Abraço