Claro que sei que a cerveja se pode considerar como a bebida de confraternização por excelência. Mas a confraternização faz-se também no calor familiar, ao que acresce uma paz quase sagrada, que não se encontra num bar nublado e barulhento.
Agora que fiz a apologia do ambiente de família, deixem-me fazer a apologia da bendita cerveja. Porque por muito que se fale da Westvleteren 12 e das suas virtudes, nunca nos parece demais, tal é a sua qualidade. Confesso-me desde já seu incondicional, mas creio que me perdoam o facciosismo, pelo menos todos aqueles que a conhecem pessoalmente.
Já há muito deixei explícito que, de todos os tipos de cerveja, o meu preferido é o trapista. Da divinal Rochefort 10 (talvez a minha cerveja nº1) à extraordinária Chimay Bleu, passando pelas várias Achel, Orval ou Westmalle, não encontro uma única que não esteja a um nível elevadíssimo, na minha escala de valores. E esta Westvleteren 12 está mesmo lá em cima, graças ao seu aroma e sabor absolutamente inacreditáveis.
Faço um aparte para falar de algo sobre o que por vezes se questionam alguns, e que tem a ver com o grau alcoólico versus qualidade da cerveja. E refiro-o agora, porque genericamente, as cervejas trapistas são muito generosas, nesse aspecto. Na minha opinião, o “segredo” de uma cerveja está no seu sabor e não no grau alcoólico que apresentam. Há cervejas excelentes com uma graduação claramente abaixo dos 5% Abv (que se poderá considerar a graduação média), enquanto que as há que, apresentando um Abv elevado, são execráveis.
Ora as cervejas trapistas têm o condão de serem tão equilibradas na elaboração, que todos os aromas e sabores - complexos, muito complexos - mantém quase indetectáveis os álcoois que nelas abundam.
Essa, portanto, uma das múltiplas virtudes do néctar fabricado pelos monges de Sint-Sixtus, e que lhe confere a honra se ser considerada por muitos, a “mãe de todas as cervejas” e a jóia da coroa, na experiência cervejeira de qualquer amador, vista até a louvada “avareza” dos monges, na quantidade anual de cerveja fabricada e posta à disposição da clientela interessada.
Não me alongarei na descrição da cerveja, até porque já o fiz em anterior ocasião. Dizer só, que todas os prazeres sensoriais da primeira experiência se repetiram e, se possível, se esmeraram.
E uma vez que falámos dos graus alcoólicos das cervejas: por vezes há quem se mostre muito admirado com a elevada graduação de algumas cervejas estrangeiras, especialmente as de abadias, comentando amiúde comigo que: “Pensava que as cervejas andassem todas pelos 5/6%. Porque é que “eles” as fazem tão fortes?”.
A resposta é simples e vem das calendas. A cerveja fazia parte da “dieta” dos monges, que na Idade Média passavam por longos períodos de jejum. Jejum que se resumia à comida sólida, entenda-se. Naturalmente, uma cerveja mais “encorpada” tornava-se mais nutritiva, e era assim que nos mosteiros se mitigava o sacrifício da abstinência.
Essa foi, não tenho dúvidas, a mola impulsionadora da qualidade das cervejas fabricadas nas abadias e mosteiros.
Etiquetas: Westvleteren 12
At 23 de março de 2008 às 19:17, Ele
Caro "VdeAlmeida",
Descobri o seu blog por acaso, mas fiquei logo agarrado. O meu interesse pela cerveja veio a crescer nos últimos tempos, depois de ter crescido rodeado de garrafas de vinho, a provar tudo o que a sabedoria familiar me tem proporcionado e, claro, ajudando a construir aquilo a que chamamos de gosto. Entretanto, como lhe disse, o meu interesse pela cerveja cresceu bastante nos últimos tempos, em virtude de algumas viagens à Alemanha. Mas as cervejas alemãs não serão as minhas favoritas. Acho-as muito leves, "despidas". Prefiro as belgas, as trapistas, mas não tenho muitas oportunidades de provar uma grande variedade, uma vez que desconheço locais onde estas se vendam em larga escala. Imagino que no Club Gourmet do Corte Ingles haja algumas, tabém já encontrei em alguns hipermercados, mas gostava de saber um sítio onde pudesse ir "à confiança". Não me importava nada de provar a Westvleteren 12, por exemplo, ou a Rochefort. Será que me pode dar uma ajuda? Ficava eternamente grato.
Um abraço,
Gonçalo
P.S.: E, já agora, alguns restaurante onde possa beber algumas cervejas interesantes. Aqui há uns anos havia um restaurante belga na Madragoa, acho eu, mas não sei se ainda existe.
At 24 de março de 2008 às 12:35, Vic
Meu caro Gonçalo
Ao que vejo, partilhamos o gosto pelas trapistas, mas devo dizer-lhe que os alemães também têm boas cervejas, embora diferentes na sua maioria, é certo. Mas as Dunkel e as Rauchbier (que têm um corpo extraordinário) são geralmente excelentes. E há outras mais, claro.Os Ingleses têm grandes cervejas, e os norte-americanos não fazem só a Bud.
Agora quanto aos sítios para compra:
Neste momento já se vende alguma variedade de cervejas nos grandes supermercados. Em quase todos há Duvel, Chimay (uma das melhores trapistas, especialmente a Bleu).
No Club do Gourmet do Corte Inglês não vendem cerveja, mas no Suoermercado sim. E aí, sim, há uma boa variedade: das trapistas há a Orval, Westmalle Dubbel, e as Chimay, e outras excelentes, Bush, Kwak, Fruto Proibido, la Trappe... Agora quanto ás Westvleteren é que só mesmo na Abadia de Sint-Sixtus, na Bélgica, ou, esporadicamente em uma ou outra loja belga ou holandesa que as consiga arranjar.
As Rochefort já são mais acessíveis, mas não por cá. As que costumo comprar, trago-as do Corte Inglês de Badajoz onde passo regularmente.
Por cá, só as vi à venda numa feira do Corte Inglês na Primavera do ano passado, e no Delidelux (que fica em frente à estação de Santa Apolónia, e que também tem uma variedade interessante de cervejas)há quase sempre, mas os preços aí são bem inflacionados, e nem toda a gente está disposta a dar quase 4€ por uma cerveja.
Quanto aos restaurantes, soube desse da Madragoa, A Travessa, que é perto de onde eu moro, mas nunca lá fui e nem sei se ainda existe.
Conheço o Medeia, que fica no Cinema Monumental, que tem umas cervejas boas. A carta não é muito extensa, mas ainda é das melhores. A comida é que se resume aos bifes, massas e hamburgueres. Não é propriamente uma restaurante para gourmets.
Também há o English bar, com uma carta apreciável, mas esse é só mesmo bar.
Fugindo ás cervejas estrangeiras, aconselharia uma ida à Republica da Cerveja, no Parque das nações, que também tem umas "artesanais" razoáveis. Nesta altura suponho que têm a sazonal "malte de Whisky", que aprecio.
Bem, e acho que não haverá muito mais a dizer. Como se vê, o nosso mercado não é muito generoso, mas já vai havendo alguma coisa por onde escolher.
Um abraço e volte sempre. É um prazer
At 25 de março de 2008 às 08:24, Chela
Amigo DeAlmeida. Ya estamos de vuelta de nuestra pequeña visita a la bella tierra Portuguesa. El frío y la nieve nos sorprendieron en Guarda con lo que la visita fué más breve de lo que esperabamos jejejeje.Sin embargo el pequeño Restaurante Belo Horizonte nos sirvió de refugio y de lugar para reponer fuerzas gracias a su Bacalhau con natas, su bacalhau con cebolada, su grelhada mista con arroz de feijâo y sus vinos y cervezas jejeje.
Y hablando de cervezas....gran desilusión la que me produjo la Abadía Gourmet.La presentación merece un sobresaliente,pero el contenido merece un cero.Dissapointing diría un inglés, Ninguna de ellas tiene sabor, cuerpo ni carácter alguno. Realmente, si Superbock quiere entrar en algún mercado con estas cervezas debe pensar seriamente realizar una nueva receta.
Al menos pude abastecerme de dos de mis favoritas portuguesas: sagres preta y sagres Bohemia. De esta última pude beber en abundancia en varios bares de Guarda y Almeida, llegando a tomar un par de "canecas" en un bar de Vilar Formoso ya que la tenían de barril. Genial cerveza!!!Un abrazo
At 25 de março de 2008 às 08:58, Chela
Sobre la Westleveren 12:
Veo tu pasión y tu devoción por ella y otras trapenses,y de algún modo comparto esa idea ya que desde mi punto de vista, junto las speciales de Ámberes y las marrones flamencas son el estílo más completo y aunteéntico de cerveza belga. Ahora bien, de ahí a llamarla la mejor cerveza del mundo hay una distancia enorme.
En primer lugar creo que no existe la mejor cerveza del mundo.Es una entelequia, una búsqueda de algo intangible que depende de varios factores.Cada persona tiene una- en tu caso es evidente jejeje- o varias.Yo soy de estos últimos. El momento, la situación personal de cada uno, la compañía,y un largo etcétera determinan cual es la mejor cerveza del mundo para millones de personas. Personalmente reconozco que no tengo una ideal si no mil jejejeje.
Para mi gusto el excesivo alcohol presente en la Westvleteren 12 -así como en la Rochefort 10- no es agradable.No creo que esté bien integrado en el conjunto, con todo el respeto para los maestros cerveceros que la hicieron.Desde mi experiencia, considero una buena integración la que se haya en la Chimay bleu, con su agradable equilibrio alcohólico.Estas cervezas son grandes cervezas, pero en mi caso distan mucho, por este motivo que menciono, de poder llegar a ser las mejores del mundo.De todos modos soy un gran seguidor del estílo trapense... unas buenas chimay rouge y bleu, una westmalle dubbel- una de mis favoritas por su aparente sencillez y sus matices- o una rochefort 6 son una delicia en forma de cerveza.
Una vez más, y posiblemente sin que los monjes lo pretendan, el buen juego y la mercadotecnia belga aparece alrededor de esta cerveza. Todo ese secretismo, ese oscurantismo son su mejor marketing. La prueba es que dos horribles webs yankees, ratebeer y beerAdvocate la han nombrado la mejor cerveza del mundo.
Yo te lanzo una pregunta, amigo deAlmeida,¿ crees que si la Westvleteren fuera comercializada por cauces "normales", tuviera la misma producción, distribución y publicidad que el resto de trapenses estaría igual de bien considerada en el mundo de la cerveza? sinceramente yo creo que no, precisamente su condición de rareza la hace más deseada y deseable para tantos aficionados de todo el mundo.
Un Abrazo
At 26 de março de 2008 às 21:15, Vic
Amigo Chela, já nem no tempo se pode confiar. Há uns anos tínhamos as estações bem definidas..Agora…qualquer ano destes, vamos ter neve em agosto!
Lá comida boa, vai havendo por cá, valha-nos isso.
Quanto às gourmet…não diga que não avisei, eheheh!
Claro que a Bohemia é outra coisa. É a minha cerveja portuguesa preferida. Mas já agora, queria deixar-te uma nota: quando voltares, experimenta a Tagus. Vais ver que até é bastante bebível.
E agora a Westvleteren: devo dizer que, achando a vleteren muitíssimo boa, e talvez a melhor de todas, como afirmo no post, continuo a preferir a Rochefort 10. E é curioso como os gostos variam: não lhes noto um pingo de álcool a mais. Acho-as perfeitamente equilibradas, tanto como a Chimay Bleu. Mas já viste, se todos tivéssemos o paladar igual só se produzia uma qualidade de cerveja, e todos perdíamos, eheheh.
Agora no que não estou nada de acordo é com a história do “secretismo” da West. Eles não vendem mais, porque há muito decidiram que só produziriam o suficiente para sustentar o mosteiro. E repara que na Rochefort não existe essa táctica, e no entanto, as cervejas Rochefort são conhecidas e reconhecidas em todo o mundo.
Depois, repara que os dois sites que referes são americanos, e a maior parte dos “degustadores” são americanos, embora haja muitos de outras nacionalidade. Ora nós sabemos que não há como os americanos para considerar que o que eles fazem é o melhor. E nem a West nem a Rochefort são americanas.
Bom, mas essa discussão levava-nos muito longe mês, eheheh!
E agora vou beber uma wheat beer à tua saúde!
Abraço
At 27 de março de 2008 às 09:58, Chela
Amigo DAlmeida, tienes toda la razón, al menos nos queda la comida. Sobre la Tagus, tuve la oportunidad de probarla hace dos meses y me gustó por la calidad que presenta en su receta- libre de adjuntos- y por traer un poco de aire fresco-aunque ya es antigua al bicefalismo cervecero luso jejejeje.
A vueltas con la Westvleteren 12. Como bien dices la Rochefort 10 es más conocida que la West 12, con lo cual es más accesible y por tanto más gente la puede probar y más gente puede opinar sobre ella con lo que si hubiera una hipotética "mejor cerveaza del mundo", esta podría sser un ejemplo porque está más contrastada al contrario que la W12cuya producción es pequeña, llega a muy poca gente y se considera algo exclusivo y raro. Es esta condición- lo quieran los monjes o no- la que sirve de lanzadera comercial para inflar su calidad- independientemente de que esta sea excelente. De todos modos los que hacen tales nombramientos nunca han sido santos de mi devoción y la objetividad es algo que brilla por su ausencia en muchas de estas calificaciones.
Te invito a que visites nuestro blog CAAC donde hemos abierto un debate en torno a qué se puede considerar la mejor cerveza del mundo. Tu opinión será más que bem-vindo - por supuesto puedes escribir perfectamente en portugués.
Sobre los sites Yankees lo que quiero decir es que fueron ELLOS y no los europeos los que consideraron esta cerveza como la MEJOR del mundo..Creo que muy pocos de los que escriben en estos sitios la hayan probado y por tanto muchas de las opiniones se deben a la influencia de ese secretismo y la fascinación que sienten por ese misterio que rodea todo lo monástico.
Agradezco tu brindis con wheatbeer y te lo devuelvo con una templada pinta de Marston's Empire IPA a tu salud. Abrazo
At 29 de julho de 2013 às 16:48, Sara
Espero que em algum momento para tentar essas coisas, porque eu encontrá-los muito rico de fato, a esperança de fazer em algum momento, se eu posso ir tentar restaurantes em santana