Esta é uma lambic da excelente cervejeira Liedmans, a tal que esteve para fechar portas há bem pouco tempo - a falência chegou a ser anunciada - não fosse a intervenção atempada da Duvel, que a adquiriu, o que é boa notícia.
Como já frisei, este tipo de cerveja vai muito bem com uma sobremesa, e esta Frambozen é especialmente adequada, embora para ser sincero ela me pareça indicada para…qualquer altura.
Refrescante, algo efervescente, tem muito daquilo que se exige às Lambic: um agridoce extremamente agradável, uma espuma alva e persistente e uma leveza assinalável. Sem exagerar na dose alcoólica que não ultrapassa os 4,5%, e tem uma suavidade que nem a natural acidez lhe retira. Os aromas soltam-se ao saltar da tampa, com os cheiros a frutos silvestres a sobressair, e naturalmente com a framboesa a sentir-se com intensidade. Intensidade que se estende ao sabor, que de tão equilibrado, não deixa transparecer resquícios etílicos, mesmo que a alma do licor estejam bem presentes.
E aquela bela cor rubi que se aprecia á contraluz …imperdível.
Teria sido realmente uma lástima se tivessem deixado desaparecer este notável exemplar de lambic.
Cervejeira: Liefmans, Oudenaarde, Belgium
Vol/Alc: 4,5% Abv
Ano: 2007
Tipo: Belgian Strong Ale
Copo: Flûte
A Cerveja para Principiantes (4)
As Ale (2) -
Prossigamos pois com as Ale, e neste “capítulo” irei falar de alguns dos mais complexos e admirados tipos de ale, começando com as cervejas de Abadia.
Abbey Ale - É naturalmente, uma cerveja nascida nas abadias e constituía parte essencial da dieta dos monges- relembre-se que a cerveja era referida pelos eclesiásticos como o “pão líquido”. Ainda hoje mesmo, alguma da que é comercializada pelas grandes cervejeiras, é feita sob licença de abadias que deixaram de laborar, como é o caso da Affligem, outras que nada têm já a ver com as abadias -entretanto desaparecidas - donde lhes vem o nome. Estas são normalmente denominadas “abbey-style ale”
Comecemos, no entanto, por dizer muito sucintamente, que uma abbey ale é forçosamente uma cerveja complexa, geralmente com um grau alcoólico acentuado, e senhoras de uma gama assinalável de aromas e sabores .
Mas falemos das mais importantes cervejas de abadia, as trapistas, que são aquelas que continuam a ser elaboradas nas velhas tulhas dos claustros conventuais dos trapistas, monges que continuam a dedicar-se á nobre arte da cerveja, e de que hoje somente existem já sete mosteiros. Na verdade, o termo “trapista” é uma designação protegida, e só pode ser ostentada juntamente com o conhecido logotipo, por sete marcas de cervejas, das quais seis belgas - Achel, Chimay, Orval, Rochefort, Westmalle e Westvleteren - e uma holandesa, a La Trappe.
Normalmente, das abbey ale (sejam trapistas ou não), fazem-se tipos diferenciados de cerveja:
Dubbel - Cerveja escura, complexa, com alguma carbonatação, geralmente muito aromática e de grau alcoólico mediano (até aos 8/9%Abv), e excelente corpo. Chamada de dubbel por ser sujeita a uma segunda fermentação na garrafa. Excelentes exemplos: La Trappe Dubbel, Chimay Rouge, Westmalle Dubbel.
Tripel - Dourada, na sua elaboração, a quantidade de malte é elevado e a espuma muito consistente. O grau alcoólico é mais elevado que nas dubbel, e os aromas muito acentuados, bem como os sabores, generosamente frutados, mas também etílicos. No entanto, são geralmente cervejas muito equilibradas e por isso, das mais apreciadas. Óptimos exemplos: Chimay Blanche, Maredsous 10ª, Achel 8º, St. Bernardus Tripel 8º, Dulle Teve 10º (Mad Bitch).
Quadruppel - Um luxo de cerveja! É sem dúvida, aquele tipo de cerveja que dificilmente não deixa “marcas”. Resumo de uma quadruppel (tarefa árdua, tendo em conta a complexidade destas cervejas): muito malte, pouco lúpulo, presença de açúcares que lhes acentuam o carácter alcoólico - que pode atingir os 12% de Abv - e um corpo escuro e notavelmente denso, aromático e de sabores marcadamente vínicos, ou, se se preferir, licorosos. Excelentes Exemplos: Rochefort 10, Westvleteren 12º, Pannepot, St. Bernardus 12º.
Muito mais haveria a dizer sobre as cervejas de abadia, que são tão antigas como a nossa civilização, mas sobre elas há uma imensidão informativa na rede. Passemos pois a outras.
Barley Wine - Este estilo de cerveja é dos mais fortes, sendo que a sua graduação alcoólica pode facilmente ultrapassar os 12/13º . Apesar disso, o cuidado e apuro que geralmente os cervejeiros põem na feitura deste tipo de cerveja, é quase sempre um produto de qualidade extra. Tanto, que as Barley Wine envelhecem bem. Isto é, se a generalidade das cervejas o conselho é “beber logo que possível”, tendo em vista a sua fácil oxidação, a Barley Wine comporta-se como um bom vinho ou champanhe - poder-se-á dizer o mesmo de algumas Trappistes - e uma estadia de 12 a 18 meses em caves, só a beneficiarão e lhe apurarão os sabores a frutos e bem lupulados, e torná-la-ão alicorada de tal forma, que qualquer vestígio de álcool a mais se dissipará, podendo-se então, desfrutá-la em toda a sua plenitude. Excelentes exemplos: Anchor Old Foghorn, Thomas Hardy Old Ale, Bass Nº1, Old Nick.
- Uma nota à parte, para referir que na minha óptica (e para o meu gosto), estas Barley Wine, tal como as Quadruppel, "preferem" ser servidas, quase à temperatura ambiente, tal a complexidade dos sabores. Como se sabe, o gelo "queima". A mão de quem lhe pega ...tal como o paladar.
(continua)
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