
Faço hoje um intervalo nas “cervejas de Verão” para abordar uma de tipo bem diferente, a Achel Brune.
Já aqui a tinha abordado, embora de forma ligeira, aquando de uma viagem a Madrid, onde me foi dada a oportunidade de saborear este produto superior da engenharia cervejeira dos monges trapistas. Esta origem, a de ser trapista, é só por si, uma garantia de estarmos em presença de um super produto, tal a qualidade que os monges cervejeiros imprimem ao que lhes sai das mãos e da sabedoria secular.
E eu não escondo nem renego a minha devoção a este tipo de cerveja.
Esta Achel - a menos conhecida das 6 trapistas - foi servida com um queijo amanteigado muito semelhante as nosso queijo da Serra mas recheado de nozes, e degustada com vagar ao balcão da minha cervejaria preferida em Sevilha, a Cerveceria Internacional, que aqui já referi.
A minha predilecção pela cervejaria é fundada não só na grande variedade de cervejas que exibe, mas também na simpatia do dono que dá sempre dois dedos de conversa, na qual embrulha por vezes alguma informação útil, e desta não faltou com ela, embora não tenha sido a melhor. É que eu procurava as apreciadas cervejas dos Melbourne Bros, e ele informou-me que o importador madrileno que as trazia para terras dos nossos vizinhos, tinha fechado portas. O que perspectiva uma longa seca em relação ás desejadas cervejas. Mas adiante…
A Achel Brune, é o que se pode chamar de cerveja completa: espuma alva e mediana (há quem não dispense, ou mesmo considere indispensável uma boa “gola”, eu sei), corpo de castanho escuro com reflexos rubi, denso, profundo, de aroma marcadamente doce, a frutos secos, sultanas, e um leve aflorar de álcool, que não lhe retira sedução. O sabor, esse é muito complexo: maltes e frutados em sintonia, uma densidade licorosa, e um after taste persistente, tão pujante que se sobrepôs mesmo ao do queijo, já de si bem activo.
Trata-se portanto, de uma aventura a repetir, nem que para isso se tenha que viajar longe, porque esta Achel Brune merece-o.
Achel Brune - **********
Cervejeira: Brouwerij der St.Benedictus - Abdij de Achelse, Belgiuum
Vol/Alc: 8,0% Abv
Ano: 2007
Tipo: Trappist Ale (Dubbel)
Copo: Globet
A Cerveja para Principiantes (3)
As Lagers (1) -
As Lagers, originárias do centro da Europa, constituem um dos grandes grupos de cervejas, e, fora de dúvida, as mais divulgadas em todo o mundo. Creio mesmo não me enganar muito, se afirmar que para o comum do consumidor o universo cervejeiro se resume às lagers.
Geralmente, as lagers-tipo apresentam-se com espuma generosa, gaseificação elevada, corpo dourado e cristalino, boa presença de lúpulo e uma relativamente baixa graduação alcoólica. E ressalvo o “geralmente”, porque as lagers se dividem em vários tipos, alguns deles bastante diferentes deste retrato robot. Contudo, e como a distinção entre algumas variedades é tão pequena que por vezes só se fazem algumas distinções por capricho de experts, exporei somente aquelas que me parecem relevantes. Portanto vejamos:
Pilsner - Porventura a mais divulgada das cervejas. Original da República Checa, é imitada por todo o mundo, sendo que um dos produtos checos de grande qualidade, a Budweiser, viu mesmo o nome ser-lhe usurpado por uma macro-cervejeira norte-americana, que vende por todo o mundo uma bebida chamada Bud, a que apelidam de “cerveja”, o que só serve para confundir os incautos, e dar mau nome à nobre bebida. Mas voltando às verdadeiras pilsner, estas apresentam as características que mencionei para a generalidade das lagers. Bons exemplos: Budweiser Budvar, Pilsner Urquel, Bitburger Premium Pils.
Bock - Bock em alemão quer dizer cabra, e as suas origens são tão antigas, que mesmo a sua designação envolve muitas dúvidas. É uma cerveja mais escura que a pilsner devido à maior inclusão de maltes que lhe conferem também uma maior suavidade, de sabor mais acentuado e maior grau alcoólico. As Bock têm ainda sub-tipos, como as Doppelbock e as Eisbock, distintas nos processos de laboração. Exemplos: Aass Bock, Amstel Herfstbock, Brick Bock, Dock Street Iluminator, Kaltenberg Ritterbock.
American Style Lager - Uma derivada das celebradas pilsner, mas nitidamente mais clara e com menos corpo. Muita vezes o arroz entra na sua composição e o lúpulo presente é quase nulo. Miller e Bud são os nomes mais conhecidos deste tipo.
Dunkel - É uma cerveja tradicional da região de Munique, muito escura, com um sabor suave e acentuado em maltes próprios da região e que são responsáveis pela sua coloração. O teor alcoólico é médio. È sem dúvida, um dos meus tipos preferidos. Exemplos a considerar: Weltenburger Kloster Barock-Dunkel, Erdinger Dunkel, Steiner Ur-Dunkel.
Marzen - Trata-se de uma “pale lager” mais forte, destinada a assinalar o fim da época cervejeira, em fins de Março, e tendo em vista os meses seguintes. São muitas as cervejeiras a fazerem a sua “marzen”, pelo que referiur exemplos é difícil, mas destacaria as marzen da Ayinger ou da Paulaner, esta tendo em vista até a sua divulgação por cá.
Oktoberfest - A festa de Outubro de Munich é assinalada por esta cerveja, que é especialmente confeccionada para o efeito pelas grandes cervejeiras da região, como a Lowenbrau, a Spaten, Hofbrauhau, Thomas Kemper Oktoberfest.
Schwarzbier - Ou Cerveja Negra. Esta cerveja, também ela tipicamente alemã, é muito escura e com fortes sabores a café e a chocolates. Como as Dunkel a sua cor é-lhes transmitida pelos maltes utilizados na sua feitura, e o seu grau alcoólico é mediano. Extremamente agradáveis, poder-se-iam confundir com porters ou stout, não tendo contudo o vigor destas. A experimentar: Koztritzer, Wurzburger Hofbrau Schwarzbier, Schweizer Steiger.
Rauchbier - Estas cervejas de Bamberg (Alemanha), fumadas (rauch), são muito apreciadas ou…detestadas. O “fumo” é utilizado para secar o malte, que é exposto perto de fogueiras ou lareiras, processo que as torna únicas, e que aprecio particularmente. São disso exemplo a Aecht Schelenkerla Rauchbier,
Steam Beers - Esta é uma cerveja originária da Califórnia, e o seu nome deriva do facto de no seu processo de elaboração se utilizar uma temperatura mais elevada na fermentação, do que aquela que é usada habitualmente nas lagers. A não perder: Anchor Steam Beer (aliás, foi esta cervejeira que registou o “Steam”, pelo que as concorrentes se denominam de California Commons).


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