Pode-se dizer que há cervejeiras cujo único fito é vender em grande escala, mesmo que tal se baseie em grandes campanhas promocionais, desproporcionadas em relação à qualidade do que vendem, e aquelas que têm como preocupação principal a excelência dos produtos que vendem.
Entre estas últimas, a
Dubuisson tem lugar cativo.
Com efeito, percorre-se toda a sua gama, e não se detecta uma falha notória.
Estabeleci primeiro conhecimento com esta cervejeira através do, talvez, seu produto mais emblemático, a
Bush Ambrée, cujo nome lhe confere uma conotação bélica, é certo, mas que não me impediu de travar conversações com aquela garrafinha de 25cl, numa versão ibérica e à qual a cervejeira substituiu o nome por
Scaldis. E nem de propósito: aqueles 25cl, se não escaldam, aquecem e bem. A cerveja apresenta uma gola de espuma farta e medianamente insistente e a cor do líquido é um deslumbrante vestido ruivo e ligeiramente turvo. De imediato, se soltam pelo ar notas de frutas tropicais e especiarias e na boca, é espessa e equilibradamente amarga, com laivos de fruta madura. Apesar dos seus 12º de TA se fazerem notar bem na boca, trata-se de uma cerveja à parte pelo seu equilíbrio. No último gole, aconselho um recosto meditativo no sofá, gozando as últimas notas que aquele líquido nos deixa espalhado pelo ar e pelo corpo.
**********A bem sucedida aventura com a Scaldis, levou-me a procurar as suas “irmãs”, com as quais travei conhecimento já com os seus nomes originais. A
Bush 10,5º, que me surgiu numa garrafa idêntica à da
Ambrée, é a loura da família, mas não se lhe deverá aplicar o epíteto de “
loura burra”, e apesar da fama da irmã mais famosa, não se envergonha, mostra, também ela atributos próprios, um belo corpo cor de ameixa madura, muito cristalino, e que me lembrou o de alguns bons vinhos brancos. Os aromas a cereais e a fruta, fazem-se notar com alguma intensidade, e o TA não engana ninguém.
********** Guardei para o fim (ainda existe uma
Bush Prestige de 0,75l, mas essa…fica para uma ocasião especialíssima, e uma de Natal para essa altura do ano) aquela quue será, talvez, a mais apelativa visualmente, a
Cuvée des Trolls, que acompanhei com um Travesseiro de presunto*. Exteriormente, tudo é extremamente atraente, da garrafinha negra ao rótulo também negro onde se destaca o texto em amarelo o divertido Troll, passando pela tampa igualmente negra onde sobressai o nome da cerveja e o boneco, ambos em dourado. Depois, foi servida num copo original, branco translúcido e igualmente muito apelativo.
Depois, a cerveja. E essa, não desiludiu, com a sua cor amarela alaranjada e a espuma alta e que não se esvai logo. Dela se evola um aromático misto de frutas e especiarias, suave, a condizer com um sabor a caramelo e malte muito persistente.
Esta cervejinha filtrada, como se designa no contra-rótulo, recorda-me de alguma forma a
Duvel, o que será sempre um elogio. Dizem os cervejeiros que foram ajudados na elaboração, pelos Trolls, estória à qual, depois de a saborear, fiquei completamente receptivo. Estamos pois perante mais um mito urbano (ou nem tanto)
***********Receita do travesseiro de presunto
- 3 ovos
- sal, pimenta e cebolinho
- 50 gramas de presunto
Separam-se as claras das gemas, e batem-se em castelo. Juntam-se as gemas, batendo-se novamente para tornar a mistura homogénea. Aquecer na sertã uma colher azeite em lume vivo. Quando estiver quente, deita-se o azeite fora, e espalha-se a mistura pelo fundo da sertã, em lume médio. Temperar então com o sal e a pimenta, espalhando-lhe uma colher bem cheia de cebolinho e o presunto cortado em pequenos pedaços por cima. Enrola-se como as omoletes - esta operação, para os menos dados a estas coisas de cozinha pode-se tornar complicada, face à espessura que a mistura adquire com as claras em castelo, mas com paciência, consegue-se (uma espátula ajuda) - retirando-se logo a seguir, para não cozinhar demasiado e guardar a sua leveza.
**********Etiquetas: Bush Ambrée, Cuvée des Trolls